domingo, 11 de setembro de 2011

10- A PÁTRIA DE ORFEU

A PÁTRIA DE ORFEU
Na nórdica Trácia, a cavalo entre ambos mundos, o conflito entre os gêneros estava ainda começando: suas montanhas penhascosas, cobertas de robles e varridas pelo vento do norte eram, a nível de iniciados, um reduto dos sacerdotes guardiães das altas doutrinas de Apolo Hiperbóreo, deus do sol e da iluminacião, cujo culto, propiciado pela realeza, (ainda que o rei não era um grego, senão um pelasgo grequizado), tinha substituído ao do herói caucásico Prometeo (quem proporcionou mente pensante e uso de razão à nova raça humana, a Aria, por ele modelada em varro e animada, depois de roubar o fogo do intelecto aos deuses)...
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Anónimo Anónimo
Por sua vez, o povo trácio -as gentes comuns dos férteis vales, sumamente apegadas a seus velhos hábitos e tradições,- só desejava seguir com suas típicas celebrações emocionais e extáticas da Era Anterior à Grande Deusa Lunar e a seu filho Dionísio, outro suposto pai da espécie humana através de seu sacrifício, ainda que estes cultos tornavam-se cada vez  mais desenfreados, animalizados e orgiásticos, o qual produzia uma permanente friccião das hordas de adoradoras de Baco com os sacerdotes olímpicos, espíritos severos do Primeiro Raio, austeros, guerreiros, disciplinados, que desejavam implantar uma Nova Era regida por uma Mente Equilibrada e Piedosa em um Corpo São.

          Orfeu era um espelho desse conflito interno de seu país. Como trácio, sentia visceralmente e amava a desbordada liberdade do subconsciente própria do culto dionisíaco, que expressava-se na a catarse da orgía, a embriaguez e o êxtase, em cujos Mistérios tinha sido iniciado por seu pai. Mas como artista cultivado e educado por sua mãe Kalíope, que era uma musa-sacerdotisa de Apolo, procurava a maneira de atemperar e harmonizar aqueles excessos, às vezes selvagens, com a serenidade civilizadora do deus solar dos gregos.

           O predominio do matriarcado na mentalidade conservadora dos trácios, apesar de que em toda a Pelasgia, e até em Troia, estava em franco desaparecimento, baseava-se em cinco fatores fundamentais que as mulheres de classe, muitas delas membros ativos dos Colégios de Sacerdotisas da cada clã, seguiam controlando zelosamente: a amorosa direção da comunidade tal como se dirige uma grande família, a propriedade da terra, a educação de seus filhos em sua própria tradição, o conhecimento das plantas e rituais mágicos que propiciavam o favor da Deusa, senhora da vida e da morte, de quem todos dependiam, o que fazia aos homens temer e respeitar a magia feminina... e a manutenção da paz, por médio de uma firme ordem interna e umas excelentes relações com as supremas sacerdotisas dos territórios vizinhos.
Já que tinham aprendido que a guerra era nefasta para todas elas: na guerra os durísimos homens trácios, filhos de Ares ou Marte, voltavam-se prepotentes e ingovernáveis. O poder da própria força e o orgulho da vitória eram drogas enlouquecedoras e verdadeiramente adictivas para o sangue quente daqueles varões. Seus instintos primários de antigos caçadores nómadas ressuscitavam e ao chegar a paz resultava impossível que renunciassem a seguir buscando aventura e glória em novas conquistas e combates, e que se conformassem com seus tristes e aborrecidos papéis de pastores de gado e ajudantes nas labores agrícolas duras. A guerra fazia heróis e a paz tinha que envenená-los.

Porque o típico era que, após uma guerra, os mais destacados guerreiros tentassem aunar ao seu poder militar o político de direção da comunidade. Se não conseguía-se os integrar como eventuais consortes respeitosos com o poder da cúpula feminina, nem eliminá-los discretamente, nem os dividir por médio de intrigas, de tal forma que se matassem entre si, com freqüência acabavam desgajando-se das tribos e se convertendo em partidas de bandoleiros que marchavam longe, em busca de tribos estrangeiras às que dominar.
Por causa disso, tinham surgido esporadicamente vários reinos patriarcais de origem trácia que, ao cabo de alguns anos, assim que a prosperidade e a comodidade que implica a paz, amoleciam àqueles brutos, acabavam aceitando a sábia direção de suas novas esposas, já que não é o mesmo dirigir um ataque destructivo durante uma temporada, que uma verdadeira organização social virada permanentemente a construir. Faltava-lhes a magia, a conexão prática com a Deusa, com a Mãe Terra, com a realidade quotidiana. O patriarcado, em partes da Trácia ou suas colônias, ainda era uma forma de governo de tribos montaraces, incultas e precárias, que tão só usando as armas podiam sobreviver a costa de outros e que estavam condenadas a uma existência insegura, austera, nómada e efêmera, ao menos que voltassem ao redil.
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A guerra só conseguia que os homens crescessem em fanfarronería e se “desmadrasem”, o qual podia produzir mais danos e mudanças que uma invasão inimiga. Por causa disso, as Mães dirigentes preferiam resolver qualquer conflito externo por médio de negociação ou de asimilação e só faziam uso da força bruta em casos de extrema necessidade, aunando-a sempre à legitimação pela lei, quando tinham que aplicá-la para impor a ordem entre seus próprios súbditos.
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