domingo, 11 de setembro de 2011

15 (2)- A MAGA-SERPIENTE

A MAGA-SERPENTE

Anónimo Ninguém
 


Llilith, a maga-serpente, estava furiosa pelo falhanço do enfeitiçado Aristeu, por sua volta a si mesmo e por sua envergonhada fuga. Agora já só queria morrer ou matar.
Morrer antes de ser humilhada uma vez mais, permitindo que a mostrassem, como um fenômeno de feira, no casamento de Orfeu e Eurídice, ante toda Trácia reunida. A ela, a filha maior do Rei Aetes da Cólquide, Soma Sacerdotisa de Hécate em seu país, cujo único delito tinha sido querer servir a seu pai e a sua pátria, protegendo, com as artes mágicas que sua selectísima educação e talento lhe tinham proporcionado, a pele áurea do Carneiro Solar,

Dizia-se que o Veládo ou Toisón de Ouro, o tótem do Aries Solar, símbolo do  impulso pioneiro da Raça Ariana, tinha sido recebido diretamente do próprio Manú Vaivasvata fazia muitos séculos na sagrada Ilha Branca, projeção externa do Reino Suprafísico de Shambala, quando os refinados habitantes da Cidade da Ponte, lá na Escítia Ancestral, acomodados em seu poder imperial e sua riqueza, começavam a iniciar seu declínio, porque quando o espírito de um povo perde seu impulso ascensional, a força da gravidade e a inércia o levam à decadência.
 
Vaivasvata, pai durante muitas encarnações dos homens e mulheres do novo ciclo, entregou a pele loira do carneiro às druidesas-artistas da sua Quarta Subraza, cujos especiais talentos criativos tinha cultivado amorosamente em uma região separada, o mesmo que modelou aos da Quinta como tenaces realizadores práticos, para que fossem os ramos renovadoras da Árvore Ariana, a levassem até o mais profundo de suas raízes na Mãe Terra e a projetassem depois, neles e em seus descendentes, à imparável ascensião de volta ao Pai Celeste, pela via do desenvolvimento de um intelecto criativo, intuitivo, discriminador e rigoroso, sólida base de um Corpo Mental Superior.
              Isso era o que significava o símbolo sagrado do Vellocino. Depois de cumplir aquel objetivo, para acabar com sucesso o ciclo evolutivo, o Corpo Mental teria que integrar com o Alma Coletiva e esta com sua Mónada.
 Os Antiguos sabían muito biem para qué estabamos manifestando nossos espíritos eternos neste plano de provas e aprendizagens, de conhecimiento, domínio e sutilização da matéria, e os Dragões de Sabeduría, os Iniciados, ajudados desde as Dimensões Superiores pelas Hierarquías não encarnadas, eram los zelosos guardiões e vigilantes do correto cumprimento do Plano Divino, para cada nova etapa da Humanidade.

Pouco tempo após a solene entrega, o Fundador e Guia Imortal da Quinta Raça Monádica deu o impulso e a a ordem para que começasse a emigração iniciática de ambas Subrazas, seguindo o Caminhar do Sol, desde as margens remotas do Mar de Gobi até o Cáucaso, com a colaboração e proteção dos poderosos persas, comandados por uma elite ariana emigrada dez mil anos antes, a da Terceira Subraza, ou Iraniana, aquela à que Zoroastro pregou a Religião do Fogo, no que aprenderam a ver  a manifestação material mais pura da Divinidad.
Submetidas com muito esforço as tribos depredadoras de bárbaros descendentes da brutal estirpe turaniana, que até fazia pouco devastavam desde aquelas alturas periodicamente a fronteira persa, a Quarta Subraza estabeleceu-se ao sul da cordilleira e a Quinta ao Norte-Nordeste, nos litorais ocidentais do Mar Caspio, o que fez que cada vez  fossem se diferenciando mais e até competindo entre sim os irmãos, cada dia  mais lunares e matriarcais os Novos Caucasianos do Sul e mais solares e patriarcais os do Norte.
Séculos depois, homens da Quinta Solar, que já tinha-se  estendido até o mar de Azov, roubaram aos seus primos o dourado tótem de Aries e lho tinham levado como bandeira a sua agressiva conquista dos Balcães, para cair depois con ella como falcões sobre a Pelasgia Ocidental.
 

Para então, os da Quarta Lunar tinham conseguido estender-se por toda a Pelasgia Oriental e as Ilhas do Grande Verde, não pela força das espadas, como eles, senão usando suas artes femininas de sedução de povos, sem nenhuma violência. Em um dia a Deusa inspirou a duas de seus filhos para arrebatar por Sulpresa o Vellocino aos sacerdotes de Zeus Lafistio, cruzar o mar e devolvê-lo à caucasiana Cólquide, e a seu santuário original no Bosque Sagrado da Grande Mãe. Não podiam imaginar que aqueles tenaces helenos acabariam por organizar toda uma expedição do mais florido de seus heróis para lho apropriar de novo, como símbolo de seu predominio atual.
 

A distinguida linhagem familiar de Llilith tinha ido transmitindo de pais a filhos e de geração a geração lembranças fragmentados de algumas das antigas magias toltecas da Raça Anterior dentro do maior sigilo, pois estavam muito mau vistas entre os Arianos, mas aquelas técnicas psíquicas recobraram seu sentido e cobriram suas lagoas quando um chamã de uma tribo de nómadas Turanios foi capturado em combate no Kurdistán e reduzido à escravatura por seu pai, o rei Aetes.
 

Para ganar a sua liberdade, o chamá ensinou-lhes a invocar e conseguir a aliança das Forças Escuras dos Senhores do Caos, Dragões de Sabedoria de mundos paralelos quem, em troca de que a família real da Cólquide lhes servisse de canais transmissores e ejecutores de seus desejos na dimensão física, ensinaram a seus servidores como recubrirse de monstruosas aparências, por médio de sugestões hipnóticas que deixavam a seus inimigos paralisados de medo ou os punham em fuga. Dessa maneira tinha ela defendido contra intrusos o Bosque Sagrado onde se guardavam os mais preciosos talismanes dos Caucasianos do Sul.
 


Mas não lhe serviu de nada se ter convertido em pavoroso dragão ante os Argonautas. As malditas deusas olímpicas Hera e Afrodita tinham feito que sua irmã Medea, uma feiticeira de maior rango que ela, se apasionase loucamente pelo chefe da expedição estrangeira. Quando Orfeu a distraiu um segundo com o encanto de sua música, a renegada de Medea, ávida de ser aceite entre os gregos, lhe lançou um duplo feitiço: o dragão converteu-se em uma pequena cobra que pôde ser facilmente capturada e a fórmula para retornar a sua aparência humana, usando sua vontade, ficou apagada de sua mente.
A digna sacerdotisa ex-guardiã do Tótem do Carneiro Sagrado, agora enfeitiçada e aprisionada baixo uma vil forma de serpente, amaldiçoou uma vez mais à poderosa Afrodita que, no cúmulo de seu perversidad, a tinha feito conceber por seu captor aquela inmunda paixão servil, infinitamente dolorosa e totalmente impossível de satisfazer, ainda que se quisesse, porque ele só era capaz da olhar como um troféu, como um monstro, como uma rareza filtrada ao mundo real desde as esferas infernais. Nem sequer sentia desejo de tocá-la, já que o feitiço de Medea tinha-a impedido regressar a sua verdadeira forma: uma princesa real elegante e bela, com duas pernas, como todas as demais mulheres, em vez daquela asquerosa fila de serpente que todos viam quando era obrigada a praticar suas transformações.

-Hécate! Hécate! -gemia encerrada em sua cesta- Por que me abandonaste, Deusa Das Três Faces? …Ingratos Senhores do Caos não vos servi com toda lealdade enquanto pude? Deusa da Lua, ilumina um pouco esta negra sombra na que me encontro encerrada desde faz um tempo que já parece uma eternidade! Deusa da Morte liberta-me ou mata-me pára que se acabe de uma vez esta insuportável humillacião, esta tortura infinita que me corroe! Dragões de Sabedoria, libertai-me desta incapacidade que tenho para lhe fincar meus venenos a meu insensível tirano! cada vez  que meus colmilhos de cobra chegam cerca de seus pés, esta maldita paixão que me condena me obriga a beixá-los e lambe-los, em lugar de enviar-lhe aos infernos para sempre! Hécate, mata-me, liberta-me ou vinga-me! Mata-me, liberta-me ou vinga-me!!
 
Ouviu como se abria a porta do quarto, mudaram as condições de luz depois dos mimbres entrelazados de seu cesto, sentiu os conhecidos passos de Orfeu indo em tenta de sua lira e de sua flauta, penduradas na parede de defronte. Sem dúvida estaria já vestido para a cerimônia e só vinha a recolher seus instrumentos e sua própria cesta, para lha ensinar a todo mundo uma vez mais, convertida em um ser horrível. Agora vinha para ela... Estava abrindo a tampa da cesta! Hécate liberta-me do meu feitiço, dá-me forças para morder sua mão ou, ao menos, para saltar para ele, lhe agredir, de maneira que se veja obrigado a aplastarme a cabeça! Deusa, Deusa, Deusa minha, me escuta!!
 
Orfeu tinha aberto a cesta e sua mão estava ao alcance de seus colmillos, quis saltar e morder-lhe selvagemmente, mas uma grande parte de sua esclavizada vontade não lho permitiu tampouco desta vez; em lugar disso, se irguió contoneándose, como um cão que move a cauda, e projetou sua língua bífida em um servil beijo de salutação às mãos do maldito objeto de sua paixão. Todo isso lhe custou um esforço tão imenso que teve, em seguida, que enroscarse sobre si mesma e regressar ao fundo da cesta. Hécate tinha-a abandonado definitivamente.

Orfeu, elegantíssimo em seu traje principesco de casamento, esteve-a observando durante um momento, duvidando de se levá-la ou não à cerimônia, para que todos se divertissem com ela. De repente, pela primeira vez, sentiu pena de sua prisioneira e se viu no seu lugar. Decidiu não a levar. Fechou a tampa, pegou seus instrumentos e saiu do quarto. Llilith esperou a ouvir o som da porta ao fechar-se, mas, em seu lugar, sentiu-a rebotar e ficar aberta... continuava havendo, ademais, bastante luz natural na habitação. Orfeu tinha muitas coisas que fazer naquele dia, teria pressa e ademais estaria nervoso. Teve um pressentimento. Esticou a cabeça e comprovou que podia abrir com ela a tampa da cesta, Orfeu tinha diminuído sua alerta e esqueceu de lhe jogar-lhe o cerrolho. Hécate estava com ela.
Deslizou-se fora da cesta e baixou ao chão; a porta do quarto estava entreabierta. Cruzou a casa com o máximo de atenção: nenhum som. Todos tinham ido embora, ao casamento. Através de uma escondida fenda em um ponto do muro que conhecia, conseguiu sair ao jardim Gratidão Hécate! Gratidão, gratidão, gratidão, minha Deusa!

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