domingo, 11 de setembro de 2011

11- A SEMENTEIRA

A SEMENTEIRA

Druidesa Anónimo

O Bosque Sagrado das Ninfas era, para Euridice, a representação daquela Trácia profunda e matriarcal, em seu aspecto mais exclusivamente feminino e espiritual. Apesar disso, tinha sido em seu recinto externo que conhecera a Orfeu fazia quatro anos, quando chegada a ocasião para que as donzelas Dríades de seu ciclo oferendassem a sua virginidade à Deusa durante a Festa da Semeadura.
Como as Dríades pertenciam ao clã das mulheres-árvore, o costume matriarcal ditaminava que o clã dos centauros, isto é, os homens da irmandade tribal que tinha ao potro selvagem como tótem, fossem a cada ano admitidos a gozar ritualmente das jovens aspirantes ao grau de Ninfas, sobre os sulcos do arado abertos por eles nos campos da Deusa, para propiciar que todos os trácios tivessem abundância em colheitas de cereais.

As mulheres da Fraternidade escolhiam fecundadores entre outros clãs diferentes quando se tratava de festivais de fertilização de outro tipo, tal como a dos frutais (homens-cabra ou sátiros) ou a do mel (homens-abelha). Unicamente o clã dos homens-árvore estava-lhes absolutamente vedado, já que seus componentes eram considerados irmãos seus.

Na Festa da Sementeira, como nas demais, as garotas-árvore eram livres de eleger a seus homens-cavalo preferidos, por médio de uma cerimônia de apresentação, depois do arado dos campos, na que a cada um deles mostrava seus encantos e habilidades. Se duas dríades gostavam do mesmo galã, desafiavam-se a uma carreira ou a qualquer outro tipo de prova e a ganhadora levava-lho ao sulco ou ao horto.

A maior parte dos candidatos exibiram-se realizando competições atléticas, mas, quando Orfeu, que não tinha uma musculatura demasiado sobresainte, tocou sua lira e cantou às ninfas, Eurídice ficou prendada do jovem príncipe como se todo seu canto fosse só para ela e o elegeu, rodeando seu pescoço com uma guirnalda de flores e sorrindo para ele invitadora. Uma hora depois, suorosa e excitada depois da perseguição ritual entre os bosques, deixou que ele tombasse e despisse seu corpo núbil sobre um solitário campo lavrado.
Orfeu, ainda que jadeante, foi-a beixando e cobriu-a de carícias sem demonstrar nenhuma pressa nem ânsia, degustando a cada recoveco de sua pele à medida que ia, aos poucos, despojando-a das suas roupas. Só quando percebeu que a garota tornava-se néctar de pura excitação,  assomou a sua porta íntima com tanta lentidão e consideração, que a dor inicial dela acabou convertendo-se no prazer convulsivo de se lançar por si mesma ao encontro da sua masculinidade, cada vez  com maior força e maior vontade. Ele a foi contendo e encauzando, levando a direção do balanço dos seus cuadrís com suas mãos e, com a maior macieza, a fez colocar-se  em tal posição que ambos ficassem frente a frente, mirada com mirada, o qual era um atrevimento muito grande para um varão.
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Nesse momento, reduziu seu ritmo, converteu-o em séries armónicas e alternas de movimentos fortes ou suaves e dedicou-se a besarla e acariciá-la, chamando-a docemente por seu nome, tal como se cantasse. Então Eurídice abriu-lhe também seu coração, atingiu o clímax e deixou-se  ir toda, como rio que ´recipita-se desde a alta cachoeira, liberando um prolongado e bronco gemido, entanto que esvaecia-se no deleitoso retorno ao vácuo primordial.

Quando acordou da sua êxtase deu-se conta de que o jovem que jazia a seu lado ainda não tinha-se derramado, já que continuava-o sentindo duro dentro dela. Apesar disso, ele tinha tido a extraordinária delicadeza de deter completamente suas embates durante um bom tempo, para deixá-la gozar com total concentração de seu prazer e de sua posterior dissolução e descanso. Quando percebeu que estava-o fitando, passeou seu dedo úmido pelos lábios turgentes de Eurídice e acariciou sua cara e os lóbulos de suas orelhas, sorrindo.
Esse jogo a fez sorrir a sua vez, tirou-lha da moleza e levou-a a se excitar de novo. Abraçando-o e beixando-o, cheia de agradecimento, dispo-se a fazer quanto possível para submerger a Orfeu em uma cachoeira de goço tão liberadora como a que ela acabava de conhecer. Tentou ir-se colocando a cavalo sobre ele para levar a iniciativa, como tinham-lhe explicado as Madres Sacerdotisas que era a posição e a atitude mais digna para uma adulta do sexo dominante, e desta vez foi ela a que recorreu às caricias e aos ritmos alternos, desejando intensamente dirigi-lo a que atingissem uma novs êxtase ao mesmo tempo.
No entanto, ainda naquela posição, Orfeu arranjou-se, sujeitando os seus cuadrís ou usando do poderoso encanto de suas palavras, para conter ou animar seus movimentos no momento adequado, auto-regulando sua própria excitação por médio da respiração, para alongar o tempo de prazer e para desfrutá-lo sem se permitir chegar ao clímax. Ao cabo, Eurídice gemeu e tornou a se disolver plenamente no vazio, sobre o peito de Orfeu.

Ao voltar em si, o rapaz estava a seu lado, fitando-a com doçura, enquanto a acariciava, tocando-a apenas com as iemas dos dedos, tal como tocava as cordas de sua lira. Mas a sua virilidade seguia impávida e disponível. Eurídice sentiu-se mal.

-Por que não te deixaste derramar em mim? -demandou-. É que tu não gostou que eu te escolhesse?
-Nenhuma mulher de todas as que eu tinha visto até agora gostei mais que de ti -respondeu ele-. Acho que esperei-te toda minha vida, ou dantes.
Eurídice inquietou-se ainda mais, também sentia que conhecia àquele homem desde antes de nascer. Mas lembrou de repente que era uma Dríade e que aquilo não era um assunto pessoal, porém sagrado: ela estava ali para ser fecundada.

-Tu tens algum problema sexual?
-Não tenho nenhum –disse ele-. Não derramo-me porque não quero; aprendi do Mestre de meu clã em Ptía, o centauro Quirão, a arte de controlar com minha vontade os impulsos instintivos. Meu prazer maior é sentir teu prazer todas as vezes que tu possas sentí-lo, mulher maravilhosa.
-Mas não estamos aqui pelo prazer dos sentidos-reprochou ela-. Não me interessa o prazer, se não derramas tua semente, não poderemos engendrar um filho para a Deusa.
-... Para que, se ele sair varão, seja sacrificado e despedaçado e sirva de adubo a estes mesmos campos de labor? Eu não queiro essa sorte para meu filho.
-Teu filho não, o meu –respondeu ela muito séria-. Tu não fazes mais que passar bem durante um momento, eu o gestaría e o daria a luz com dor.
-Não me importo como o façamos. Seguiria sendo meu filho, além de teu. Tu não acharás que as mulheres sejam fecundadas pelo vento -disse Orfeu com firmeza.
-Já o sei, mas tu tens potência sobrada para engendrar vários filhos diariamente –arguiu Eurídice, agora com muita paciência, entendendo que tinha-se encontrado com um machinho rebelde-. Eu só posso criar um ao ano, que é uma parte entranhável de mim mesma, que me acompanha desde dentro durante nove meses e a quem tomo um grande carinho. E mesmo assim sacrifico-o com amor, se for um varão, tal como Dionísio foi sacrificado e devorado, para que surgisse dele o melhor que há na espécie humana ... Parece-te mau oferendar um só filho à Deusa Mãe de todas as vidas, para que possamos gozar de uma boa colheita?
-Todos vamos regressar, tarde ou cedo, ao ventre da Deusa para morrer e renascer... Que interesse pode ter ela em privar tão cedo de suas vivências a um pobre menino?
-A Deusa Mãe aprecia sempre nosso sacrifício incondicional, vê o que somos capazes de fazer pela comprazer, e no-lo paga com alimento abundante, para a vida seguir.
-Que classe de mãe sería essa se fosse necessário comprazé-la com o sacrifício, a dor e a morte de seus filhos varões? Como se pode comprar a vida de um povo com a morte de um inocente?... Ademais, o sacrifício principal não é o da dor dos convencidos pais, senão o da própria vida de um pequeno ser humano que não pode decidir por si mesmo seu destino.

-Tu não podes entende-lo, só es um simples homen, perdoa eu te dizer, sempre fez-se assim…não pretenderás saber mais do que as Sacerdotisas.
-Cuando se diz que asim fez-se sempre, é que algo deve estar errado, tudo quanto é sadío muda, se transforma.

-Por favor, cala já essa boca e não o estragues más –Eurídice estaba irritada- tu estás .dizendo típicas bobagens masculinas.

-Acho que as pessoas fazem os deuses a sua imagem e semelhança-insistiu Orfeu-, e não ao invés, e que as pessoas que desenharam e mantêm essa imagem para a Deusa da vida, pertencem a um tipo de mentalidade que tem ficado tão fosilizada como as armas e os instrumentos de pedra.

Eurídice já não quis escutá-lo mais. Apartou-se dele e começou a cobrir de novo seu corpo, ofendida, envergonhada e temerosa por ter provocado com suas corteses considerações a um membro do sexo inferior umas contestaciones tão irreverentes para a Grande Deusa... Mas também sentia uma incontenible frustração e raiva.
-         Homem impío! –gritou, com vontade de abofeteá-lo- Se essa é a opinião que tens da religião de teu país, tu, um príncipe real, por que participas em um ato religioso e sagrado? Só pelo prazer de profaná-lo?
             -Participei porque participavas tu, Eurídice –disse ele apaixonadamente, sem perder a doçura de sua voz-. Faz em um ano que te vi em uma cerimônia externa do Templo das Ninfas. Desde então segui-te, escondido, cada vez  que podia. Tenho-te espiado, tenho sonhado contigo a cada noite, tenho composto música pensando em ti, te desejando...
Eurídice, que já se ia, se deteve surpreendida, o escutando. Ele se ajoelhou a seus pés e os tocou.
-...E apresentei-me a esta seleção com a louca esperança de que reconhecesses em minha música os sentimentos que tu mesma geraste em mim... e reconheceste-os, sem dúvida, por isso me elegeste entre tanto musculoso. Obrigado, obrigado, gratidão à Nossa Senhora a Deusa pelo feliz, maravilhoso dia que tenho vivido hoje. Perdoa-me se ao final ofendi-te sem querer. Eu te amo, Eurídice.
Ela se encontrou, sem saber como, outra vez nua e abraçada a ele, ganha por seus sentimentos, fundindo intimamente sua feminidade com a sua hombría sobre a terra fértil que esperava ser fecundada. E de novo atingiu o cume e conheceu um prazer altíssimo entre gemidos, um prazer que enchia todos os ocos de seu corpo, de sua emocionalidade e da sua mente, um prazer que todo o dissolvia e unificava. Mas tampouco esta vez quis Orfeu derramar sua semente. 

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