domingo, 11 de setembro de 2011

31- SUL DA ITÁLIA

SUL DA ITÁLIA     

 Subindo a costa itálica cara ao norte, a flotilla veio a ancorar uma tarde na Ilha dos Macacos, onde estava a fábrica mais antiga de Occidente, fundada por jonios de Calcis e de Eubea, a de Pithecussa, que mudava aos Samnitas, que eram os nativos itálicos mais próximos, seu abundante trigo por copos de cerâmica decorados com histórias de deuses e heróis (o que era uma piedosa forma de contribuir a civilizarlos). Lá descargaron e carregaram mercadorias durante dois dias. Orfeu admirava-se da beleza da paisagem, com a mole piramidal do vulcão Vesubio dominando o centro da ampla, cóncava e luminosa baía, que acabava fechando ao sul com o cabo Sorrento e com a linda ilha de Capri. 

O bardo baixou a dar uma volta pela cidadela grega e pelo borde do continente e pôde entender por que Itália era chamada “terra de promisião”, ao conhecer os planos de crescimento e expansão pela espaciosa baía que os colonos tinham, especialmente na base do promontório Miseno, em frente a Phitecussa, onde queriam construir uma cidade continental à que chamariam Kyme ou Cumas, em lembrança de uma cidade destruída fazia tempo em Eubea.
O solar de Kyme estava junto a umas colinas cheias de castanhos e parras de vid recém plantadas e por trás delas tinha uma pequena lagoa vulcânica consagrada a Hécate, à que chamavam o Averno, que quer dizer “sem pássaros”, já que era um antigo cráter de vulcão. A água estava fervendo e de vez em quando soltava vapores sulfurosos que asfixiariam às aves que se aventurassem ao cruzar. Orfeu fez que lhe guiassem ali, mas não viu forma alguma de baixar por aquela olla de freir até o Hades sem se queimar ou se asfixiar como os pássaros, de modo que decidiu continuar até o Extremo Occidente, tal como Hércules recomendasse.

Por causa da extensísima e fértil planície cerealista que se estendia para o golfo situado mais ao norte, bem regada pelo rio Volturno e abonada pelas lavas vulcânicas, Kyme parecia o projeto de colônia com mais possibilidades de futuro que Orfeu tivesse conhecido. Assim, passou a tarde compondo um canto em sua honra, imaginando uma civilização, a da “Grande Grécia” que, partindo daquele lugar, se estenderia por toda Itália e por todo o Mediterráneo Ocidental, levando aos remotos países bárbaros a luz de Apolo, a alegria de Dioniísio e o firme e misericordioso amor da Deusa, matriz de toda vida.

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