domingo, 11 de setembro de 2011

9- PATRIARCADO

PATRIARCADO

Druidesa Anónimo

Porém, tudo mudou completamente no dia em que uma dona-de-casa, por acaso, inventou a metalurgia, ao deixar que se misturassem certos minerais no fogo do lar. Depois da descoberta da fundicião do cobre, veio a de uma série de aleaciones combinadas que produziram o bronze, o que permitiu aos caçadores e guerreiros de algumas tribos dispor de armas duras antes que outras.

Aí surgiu a guerra em seu moderno conceito e com ela, a pilhagem, a escravidão e as diferenças de classe, em base à riqueza e o poder que se conquistou: quando, pela força avasalladora das novas armas, os homens, que depois de exterminar a quase todos os varões de outra tribo, lhe arrebatavam ao inimigo de uma vez seus campos de cultivo, seus ganhados, suas embarcações, suas mulheres e seus filhos, produziram tal excedente econômico em mãos dos principais chefes guerreiros, que desequilibrou-se completamente o velho sistema social, provocando o surgimento do patriarcado.
A enorme acumulação repentina de mulheres e de meninos inimigos capturados, que agora eram escravos sujeitos à propriedade dos guerreiros mais fortes e melhor armados, produziu uma descompensação de poderes e um investimento de valores tão grande, que levou à perda de respeito e à degradação de toda a sociedade matriarcal e de seu comunismo e promiscuidad primitivos...
               ...Incluídas as mulheres e as filhas dos vencedores, que perderam sua influência e seu comando ao não poder competir com o grande númeiro de sumisos objetos de prazer, mão de obra gratuita a seu serviço e propriedades materiais dos que puderam dispor a seu desejo, a partir desse momento, os varões dominantes.
 Desde então, mudaram os usos e costumes: Surgiu o novo direito de propriedade patrilineal, sustentado pela violência, que permitiu que os homens mais fortes pudessem possuir e transmitir a seus herdeiros varões as terras e escravos conquistados, inventou-se o matrimónio como fórmula de propriedade sobre as próprias escravas, feitas agora concubinas, e sobre os filhos que elas tinham com seu amo, bem como para legitimar a propriedade exclusiva das terras e os bens das vencidas.

Para não ter que alimentar nem fazer herdeiros de seu poder e posses a filhos de outros, os amos começaram a exercer um controle cada vez  maior sobre a fidelidade exclusiva de suas mulheres, até acabar encerrando-as no gineceu quando se tornavam sedentarios. Já que agora dispunham de escravos e escravas que eram obrigados a realizar as duras tarefas exteriores que antigamente concernían a suas esposas, estas foram se fazendo, nas classes mais poderosas, simples objetos suntuarios de exçlusivo prazer, entanto que fossem desejáveis ou inteligentes.
A repressão da promiscuidade sexual das próprias esposas e filhas foi-se convertendo, pouco a pouco, no maior garante social da sumisião do antigo matriarcado, pelo que se voltou uma qüestão de honra para os varões. A cada comunidade desenvolveu seus próprios sistemas para denigrar, marginar ou castigar ao homem que não vigiava adequadamente às féminas baixo seu comando.
Como normalmente o marido era o último em inteirar das liberdades que se tomavam suas esposas ou suas filhas, o primeiro aviso e telefonema ao rigor que lhe davam os outros varões da comunidade era sair pela noite a escondidas para fazer soar jocosamente cornos de boi, touro castrado, ante sua casa. O cornudo, já inteirado e por todos conhecido, tinha que dar um escarmiento às mulheres da comunidade inteira matando à sua, ou exiliarse, já que se não o fazia, se lhe rebajaba socialmente até níveis insufribles.
Os chefes guerreiros aprenderam que seriam mais poderosos quantos mais homens matassem e a mais novas esposas, escravos e terras de cultivo se apoderassem. À medida que seu poder aumentava, deslocavam-se para o sul, tratando de conquistar as terras mais fértiles e soleadas. Seu passo deixava-o todo envolvido em desolação, já que não estavam interessados em construir nada, senão só em se aproveitar do construído por outros, enquanto durasse.
Com todo ésto Sulgiu o conceito da escassez do necessário para a vida, conceito antes desconhecido, e da necessidade de competir pelo pouco que tinha. A natureza seguia sendo igual de abundante para todos, mas o fato de que os mais fortes acaparasen bem mais do que precisavam e se arrogasen o poder de distribuir o que tinha, provocou que os mais débis tivessem que se submeter a eles para poder seguir dispondo do que antes era gratuito.
A economia individualista e feudal substituiu à comunitária, o importante não era ser capaz de produzir bens, senão ser capaz de se apoderar deles e dos defender dos outros.
E, com isso, entrou em decadência a divisão da tribo em clãs. Acabou-se a distribuição equitativa de bens e serviços, que foram acaparados por quem podia os pagar. Sulgiu a primeira aristocracia feudal, que se afianzó quando os rudos descendentes de Heleno destruíram o último império matriarcal altamente evoluído: o dos cretenses.

Porque, aproveitando-se de que um desastre natural de enormes proporções varreu com uma onda gigante grande parte de Creta e deixou esmagado e sem frota ao Império Minoico, os helenos jonios e eolios, bárbaros loiros e de olhos azuis vindos do Norte, começaram a invadir suas colônias continentais e em um dia lhas arranjaram para chegar até a própria ilha. Assim, assaltaram sua capital, Knossos, a saquearam e a queimaram, acabando para sempre com o predominio de uma cultura matriarcal sofisticadísima, que tinha imperado sobre o mundo pelasgo do Mar Egeu durante mais de três mil anos.
…Mas a civilização dos vencidos era tão superior à sua, que os conquistadores foram conquistados por ela; parecia que o culto da Deusa Triplo começava a renacer, depois de sábias adaptações. A assembléia de seus Grandes Sacerdotisas (a casta que se tinha ido transmitindo o poder, de mães a filhas, durante milênios) iniciou um astuto e flexível movimento integrador dos deuses dos invasores helenos, os reconhecendo como “Filhos da Deusa” (Grai-Koi), ao mesmo tempo em que aceitavam casar com seus chefes e compartilhar com eles a direção de suas súbditos. A partir desse momento, os helenos passaram a ser chamados gregos.
O filho mortal favorito da Grande Deusa, Dionísio, que fazia-se imortal na dimensão divina, depois de ser sacrificado cada ano, adotando o nome de Zagreu, passou a se chamar Dzeus, e depois Zeus, uma adaptação pelasga do nome do deus principal dos ocupantes, ao que eles chamavam antes Deu ou Dious. Até mudaram-lhe seu lugar de nascimento para enobrecé-lo, (que devia ser alguma bruta montanha do Cáucaso Norte), fazendo-o filho da refinada ilha de Creta, a antiga capital do matriarcado Egeu.
Dio-Zeus, no entanto, não só não deixou-se sacrificar à Deusa, como Dionísio Zagreu, senão que fez saber muito bem a todos (e, especialmente, a todas), que lhe desagradaban os sacrifícios humanos, que se tinha terminado definitivamente a época das Amazonas e que fulminaría com seus raios a quem praticassem aqueles cultos ultrapassados. Uma nova era tinha começado. Os esposos gregos das sacerdotisas pelasgas não lhes permitiram mais que seguissem sacrificando a seus filhos varões nem que lhes limitassem a eles seu tempo de mandato como chefes de guerra, com o qual começou a crescer uma nova classe dirigente hereditaria que já não era exclusivamente feminina.

Mas nisto, chegaram do Norte outros helenos, os aqueus, bem mais severos e intransigentes que os anteriores invasores, trazendo uma nova arma, o ferro, capaz de avariar de um sozinho golpe bem dado as espadas de bronze. E varreram toda oposição: tiraram-lhes seus reinos aos jonios e eolios, seus primos gregos integrados, começando por Ptía e por Éfyra, transladaram a seus deuses patriarcais desde o Cáucaso Norte ao Monte Olimpo e começaram a varrer a Antiga Religião e quanto ficava de matriarcado insumiso. Ainda que, como não puderam evitar que os vencidos continuassem adorando à Deusa Triplo, a converteram em uma trinidad de Deusas Olímpicas:
O aspecto “donzela”, lua crescente, caçadora e guerreira, da grande Deusa, passou a venerarse como a donzela virginal Artemis, a Lua, irmã de Apolo, o Sol.
O aspecto “mulher núbil, mãe ou ninfa”, lua cheia, A Senhora, A Mãe, tomou o nome de Hera, que passava a representar o papel de deusa do casal. O principal arquetipo da Antiga Deusa pré-helénica, agora despojado de sua independência, era convertido na esposa legal (ainda que mil vezes enganada), do deus dos vencedores, Zeus, que primeiro a cortejó sem sucesso e depois a conseguiu, depois da violar.
...E o aspecto “idosa sábia” da Deusa Triplo pelasga, lua menguante, passou a sincretizarse com Démeter, uma antiga deusa libia-cretense dos cereais que chegou, junto com seus Mistérios para iniciados, a Eleusis, cerca de Atenas, a qual foi adotada como senhora olímpica da Agricultura.
A venerável figura da Deusa Tripla como “Senhora do Nascimento, da Vida e da Morte”, culto que os Caucasianos do Sul, adoradores da Lua, tinham trazido antigamente de Anatolia, foi demonizada pelos solares Helenos ou Caucasianos de Norte, especialmente pelos aqueus, que a puseram a guardar os Infernos em forma de um cão de três cabeças, o Cancerbero. Seu aspecto destruidor foi assumido por um deus olímpico dos infernos, Hades, que tinha casado com a donzela Core, filha de Démeter, depois de raptá-la. Por embaixo da figura de Core, chamada agora Perséfone, continuava transparentándose fortemente, para os pelasgos, a augusta presença de Nossa Senhora, a Antiga Deusa.
Os múltiplos atributos da Mãe Universal dos Mil Nomes se escindiram na criação de mil deuses patriarcales. Quando as tribos dos gregos começaram a viver em cidades e desejaram uma Deusa Donzela mais viril e civilizada e menos agreste, cruel e amazona que Artemis, quem desprezava aos homens e odiava o matrimónio, inspiraram-se em Onga, deusa fenicia da guerra e a sabedoria, e entronizaron a Atenea, a dos verdes olhos penetrantes, que nasceu diretamente da inteligência de Zeus, sem intervenção materna alguma.
No entanto, não houve jeito de patriarcalizar a uma deusa tão poderosa como a do Desejo, a ninfa Marianne ou Mariuena, e os invasores não tiveram mais remédio que adotar no seu Olimpo, fazendo-a filha de Urano, à antiga deusa síria e cananea de “a harmonia que é capaz de surgir do conflito de opostos”, Isthar, Ashtar ou Astarté, a estrela matutina baixada à Terra para fazer evoluir aos homens por médio do amor, só que lhe retirando seus atributos guerreiros e dando-lhe o nome grego de Afrodita, a “nascida da espuma” na ilha cretense de Citera, à qual trataram de sujeitar a casando com o coxo Hefesto Vul-Caim, divino ferreiro das fráguas vulcânicas da ilha de Lemnos, onde lhe prestavam-lhe seus fogos transformadores os Kabiros de Samotracia, os Grandes Deuses que desde os tempos mais Antigos da Terra, habitavam o Mundo Intraterreno. ..

Mas para Hefesto Vul-Caim não houve forma de evitar que aquela beldade irresistível lhe enganasse com Ares, o feroz deus trácio da guerra, um dos principais fundadores da raça ariana, e com muitos otros amantes mortais ou imortais, com o qual seu comportamento continuava proclamando o direito à livre espontaneidad do instinto sexual, que a imposta monogamia negava.

O mito diz que a noite de casamentos de Zeus, o deus dos invasores, com Hera, a deusa dos invadidos, durou trezentos anos, o qual deve significar o tempo que a sociedade patriarcal demorou em impor o casal monogámico à sociedade matriarcal, ou seja umas dez gerações. Para conseguí-lo, tiveram de abandonar puritanas costumes arias, tão arcaicas e rígidas como a de não permitir que as viúvas voltassem a contrair novo casal, o que fazia que muitas mulheres helenas se inmolasen voluntariamente na fogueira na que era incinerado seu esposo.

 Essa luta pelo poder entre a velha cultura matriarcal e o recém chegado patriarcalismo estendeu-se inclusive para além do centro do refinado mundo do Egeu, cujas modas seguiam influenciando às atuais classes aristocráticas de um e outro lado do mar e faziam que alguns desejassem se parecer mais aos gregos da Quinta Subraza e outros aos cultos e ricos troianos da Quarta, primos próximos seus e seus maiores competidores na Ásia Menor, quem controlavam os estreitos que comunicavam ao Mediterráneo com o Mar Negro.

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