domingo, 11 de setembro de 2011

6- TRIUNFO DE ORFEU

TRIUNFO DE ORFEU

Anónimo Anónimo
           A Trácia recebeu com toda pompa ao seu herói argonauta e as famílias nobres lhe fizeram contar sua aventura muitas vezes, se disputando a honra de lhe ter como convidado por uns dias em seus palácios.
Orfeu declamaba seu relato em prosa ou verso, acompanhando com sua lira e, ao final, como troféu de guerra e prova de sua façanha, mostrava a suas conciudadanos uma cesta com tampa da que saía, contorsionándose, uma pequena e delgada cobra, quando tocava a flauta sentado em frente a ela.
Ao dulcificar o ritmo, a serpente crescia e convertia-se em uma bela mulher de longa e ondulada cabellera rojiza, olhos cautivadores e peitos nus, que seguia tendo corpo de reptil da cintura para abaixo e que dançava vibrando, sem quase mover do lugar, com sensuais e muito elegantes movimentos de seu bem torneados braços, ornados com brazaletes de cascabeles de ouro, enquanto mecía sua fila ao compasso da música.
Então Orfeu dava-lhe uma maior intensidade à música e a maga Llilith voltava-se da cor do fogo e convertia-se no grande, repugnante e pavoroso dragão que tinha guardado o Vélado d´Ouro, começando a arrojar para o teto tremendas llamaradas pela boca, para grande espanto e maravilha dos assistentes.
Quando mais aterrorizados se encontravam, o bardo dulcificaba de novo seu som e a besta voltava a ser uma atraente mulher-reptil, que se inclinava reverente e besaba com amor os pés de seu amo.
Por fim Orfeu regressava ao ritmo do início e ela se transformava em uma pequena cobra, entrava na cesta com uma última inclinação para seu encantador e se enroscaba nela placidamente, até que lhe fechavam a tampa. Todos ficavam depois aplaudindo entusiasmados o extraordinário domínio das vibraciones que tinha atingido o músico.
-Não se trata tanto de dominar as vibraciones –explicava ele-, senão de dominar a atenção dos demais, da captar de tal maneira que se Sulpreendam e se esqueçam por um momento de suas preocupações, planos e interesses pessoais, de que baixem a guarda um instante e se abram, vamos... E esse era a arte desta maga, Soma Sacerdotisa de Hécate na capital da Cólquide, e por isso lhe encomendaram a defesa do maior tótem de sua pátria, a pele do Carneiro Sagrado, um antigo símbolo da raça Aria e um recordatorio de como A Grande Deusa Triplo dos pelasgos, seus descendentes, se tinha debochado dos Deuses Olímpicos dos gregos em Ptía.
Primeiro aparecia-se dançando sem música, em forma de mulher-serpente, a quem conseguiam entrar no bosque sagrado onde estava pendurado o Vélado d´Ouro. Eles ficavam fascinados por sua beleza e abriam sua atenção.
Nesse momento fazia-se ver como dragão horrível que arrojava lumes pela boca e os invasores se viam obrigados a abandonar o bosque correndo, para cair em mãos dos guardas. Alguns até morreram ou se desvaneceram ali mesmo de terror, ainda que só se tratava de uma ilusão hipnótica.-
-E como conseguiste capturá-la? -perguntavam seus admiradores.
-Felizmente, a maga Medea, também sacerdotisa de Hécate, filha do rei Aetes da Cólquide e irmã menor de Llilith, se apaixonou de Jasão, o chefe de nossa expedição, e sua cega e baixa paixão por ele lhe levou a trair a seu pai e a toda sua linhagem. Foi ela quem nos ajudou a penetrar no bosque sagrado e quem nos ensinou como poderíamos neutralizar a sua irmã.
Assim, assim que apareceu em sua forma mais atrayente e começou a dançar para nós, eu me esforcei em não olhar para seus olhos nem em ser captado pela sensualidad de seu corpo, senão em concentrar toda minha atenção exclusivamente nos movimentos de seu dança silenciosa, até que pude descobrir sobre que tipo de ritmo interno dançava. Imediatamente, me acompasé a ele com minha flauta durante um momento e o fui elevando de tom até que, de repente, o mudei.
Esse foi o instante em que ela ficou Sulpreendida e perdeu a concentração e o controle de sua farsa. Deixou de tentar prender nossa atenção e abriu-se à minha.
Justo nesse momento de abertura, por trás de mim, enquanto eu tocava, sua irmã Medea lhe transmitiu, por médio de um conjuro, a mesma paixão por mim que ela tinha desenvolvido por Jasão; de modo que quando, seguindo suas indicações, a chamei por seu nome, veio até mim totalmente fascinada. E quando lhe ordenei que se convertesse em uma cobra pequena e que entrasse em minha cesta, o fez e fechei a tampa.
Desde então é minha rendida escrava, nada tenho que temer dela, porque me ama com loucura, e só tenho de tocar a mesma música que então, para que realize todas as transformações que tendes visto, sempre baixo meu atento controle... Domínio da atenção, amigos meus. Essa foi a finque que nos permitiu nos apoderar do Vélado d´Ouro –terminou o bardo.
Orfeu converteu-se assim, sendo tão jovem ainda, em uma glória nacional, e bebeu a tragos longos da embriagadora droga da fama, do halago e do louvor popular. Todas as comarcas da grande Trácia e muitos reinos vizinhos tinham enviado convites e presentes para convidarlo a que actuasse ante eles, contasse a história dos argonautas e mostrasse a incrível mulher-dragão soltando lumes. O casamento com Eurídice, longamente ansiada por ambos, se preparava enquanto com grande júbilo.


Mas a maga-serpente encantada, que estava desesperadamente apaixonada de sua carceleiro e rabiosa a morrer de fitas-cola pela noiva de Orfeu, tentou impedir o casamento a toda costa.
Para isso, fingiu redoblar seu sumisião ao máximo, até que ele ficou tão convencido de que estava totalmente dominada, que às vezes lhe permitia circular com liberdade por sua casa ou tomar o sol em seu jardim, tapiado com muros, em sua forma de cobra.
Quando vinha uma visita ou quando caía a noite, lhe bastava com tocar a flauta e a cobra vinha a inclinar a seus pés, desde onde fosse que estivesse, e se enroscaba na cesta assim que lho mandavam.
Assim foi como uma tarde, quando tomava o sol enroscada sobre o muro, viu vir pelo caminho a um homem tão aposto que o que ficava nela de mulher se comoveu.
Ainda que não o conhecia de nada, depois de apreciar positivamente seu estampa, a maga-serpente fraguó de imediato o plano de servir do encanto de suas formosas formas viriles para tentar seduzir à noiva de Orfeu, a fim da apartar de seu amado.
Fez soar seu siniestro assobio de cobra e ele voltou imediatamente sua mirada para o muro, onde se encontrou com a concentração total de Llilith, que o hipnotizó e que carregou sua imaginação telepáticamente, por uns minutos, com uma série de imagens elaboradas por ela, que o deixaram muito condicionado. Depois baixou do muro para o jardim.
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Quando o homem acordou do feitiço, sua mente não recordava o trance, mas estava dominada por uma obsesião: encontrar no chamado Bosque das Ninfas a Eurídice e apaixoná-la e possuí-la para sempre.
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