segunda-feira, 12 de setembro de 2011

37 (2)- PYRENE E HÉRCULES

PYRENE E HÉRCULES


O interessante vate, que se chamava Jacín, seguiu com a história de Hércules e Pyrene, quem, desde a primeira vez que se encontraram, tinham ficado apasionados o um pelo outro. Após contar suas origens, ela tinha estado mostrando-lhe as forças de que dispunha e a fortaleza natural que era o selvático bico em que se refugiara.
Vendo-a subir ágilmente pelas rochas, mal coberta com uma ligeira túnica curta de montanha, enquanto dava inteligentes ordens a seus fiéis guerreiros, Hércules sentiu algo que nunca tinha sentido antes.

Quando, pela tarde, regressavam ao acampamento, ele a olhou aos olhos com a maior admiração e ternura e disse:

-Sabeis, Senhora, que estou-vos amando muito?
                    -Acho que vou desmaiar... -respondeu ela languidamente, olhando-o de soslayo com as pálpebras entornadas. E ele já a vía, na sua imaginação, caindo entre seus fortes braços. Mas tratava-se de uma filha de reis de uma civilizadíssima linhagem e não pareceu-lhe bem ser tão elementar e precipitado, apesar de que o magnetismo que havía entre os dos era tão evidente que podía tocar-se…de modo que, com esforço, se conteve e decidiu dar-lhe tempo ao tempo.

No entanto, pouco pôde esperar seu leonino impulso e essa mesma noite Hércules introduziu-se subrepticiamente nos aposentos da princesa, burlando a suas centinelas, e sendo acolhido com naturalidad por ela em seu leito, como se o estivesse esperando, já que tinha sonhado, toda a primeira parte da noite, que nadava e jogava com o forzudo estrangeiro, nus ambos baixo o sol, em uma fresca cachoeira da montanha; assim que não lhe pareceu muito estranho acordar e encontrar-lho a seu lado, degustando, com contida imaginación, a beleza e o perfume de seu coberto corpo juvenil sem ousar toca-la. Até que ela afastou a um lado os lençois, abrindo-lhe acesso á sua intimidade.


Horas mais tarde, totalmente fundidos pelo amor, Hércules prometeu-lhe que a ajudaria a reconquistar seu reino e que vingaria o assassinato de seu pai ou morreria no empenho. Ao dia seguinte, Pyrene ordenou a seus comandantes que coordenassem seus planos de ação com os do grego e aos poucos, a base de golpes guerrilheiros mirados no tempo e no lugar adequado, o exército ocupante de Gerión foi se debilitando e se debilitando e seus homens começaram a perder a gallardía e o ânimo.

               Decorreram seis meses nos que ambos amantes sentiam-se no paraíso, enchendo suas noites de paixão e lutando de dia juntos, na maior harmonia, para conquistar um reino para os filhos que pensavam ter, ao mesmo tempo em que planejavam uma organização social renovadora e utópica, uma Nova Atlántida onde aunaram-se a mais moderna civilização, comandada por uma assembléia meritocrática de heróis e sábios, bem ligados com o Plano Evolutivo para a Nova Raça, com o maior grau de liberdade dos cidadãos.

Porém Hércules não se sentia livre. Precisava liquidar seus compromissos com o pasado, que eran promessas feitas aos deuses,  para poder dedicar-se integralmente à construção do seu prometedor futuro com Pyrene sobre aquele belo país.
Começou a obsessionar-se com a ideia de que, se conseguia levar a Euristeu o gado vermelho de Gerión, seguramente o tirano consentiria em rescindir seu juramento de servidão, já que marcharia embora a viver sua vida a uma terra tão afastada de Tirinto... Claro que podia primeiro tentar de derrotar a Gerión e depois adueñarse de seus bois; mas conseguir xogar-lhe da Ibéria ia ser, calculando-o com realismo, uma tarefa de muitos anos, dado o grande poder dos exércitos atlantes.
De modo que decidiu pedir a Pyrene trinta homens corajosos e baixar a Tartessos de uma a pelo rebanho. De chegar triunfante com ele a Tirinto e obter sua liberdade, estava seguro de que poderia regressar com um bom grupo de experientes guerreiros gregos que lhe ajudassem a se apoderar de Iberia em troca de terras e cargos.

              Pyrene, que se encontrava grávida, teve um mau pressentimento,  pareceu-lhe um projeto inoportuno e precipitado e suplicou a seu amado que não se afastasse dela nesses momentos para uma aventura que só a ele lhe interessava e que supunha meses de arriscadas viagens a lugares distantes. Pediu também para ele se concentrar na defesa e ampliação de seu território, tendo como primeira prioridade conquistar o espaço que os separava dos resistentes bascos… E que considerasse que sua obsessão por se libertar de Euristeu não era mais que uma prisão puramente mental que ele mesmo tinha construído em sua cabeça, já que ninguém poderia ser mais livre que Hércules, se Hércules queria sé-lo...
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..Tampouco gostou nada que seu amante, convencido da superioridad cultural de seus compatriotas gregos sobre os “bárbaros”, estivesse projetando buscar mercenários estrangeiros para reconquistar seu reino. Isso era só um preconceito dele e não era a melhor maneira de fazer as coisas em um país de gentes tão orgulhosas e independentes como o eram as de Iberia.                                                                                      

                Enviou um mensageiro a sua irmã Andía explicando o plano de Hércules e lhe pedindo sua opinião. Ela, como já o esperava, recusou-o.
           

                   -Não importa se toda nossa vida não serve senão para consolidar um reino forte e seguro nas montanhas do Norte –explicou-lhe Pyrene uma noite, se fazendo eco do que Andía tinha dito-, nossos descendentes chegarão ao trono com uma missão herditária e um destino: estender seu domínio para o rico Sur tanto como lhes for possível… E isto será o que criará uma grande nação de guerreiros tenaces e experientes que valorizarão o que tanto lhes custou conseguir e sempre o defenderão, com um treinado espírito expansivo que acabará se estendendo pelo mar e por outros continentes, ainda que implique uma gestación de mil anos...

         - Isso parece-me mais realista, meu amor -concluiu-, que querer resolver rapidamente, com um grupo de mercenários ávidos de lucro, contra os que seguro que teremos que seguir lutando depois, para recuperar nossa soberania e liberdade.

Durante muitos dias, o grego esteve dando voltadas na sua cabeça aos prós e os contras de seu projeto, a fim de tomar uma decisão acertada; mas, em realidade, já a tinha tomada desde o princípio: sentia-se tão atado ao compromisso de acabar de pagar suas culpas do passado e considerar-se em paz com os deuses, que nem podia dormir. Quando disse a sua amada que partia para o Sul, sua relação amorosa começou a se deteriorar.

No entanto insistiu tanto e até agriou-se de tal maneira, que Pyrene, com grande dor de seu coração, teve que entregar-lhe seus melhores homens e deixalo- partir.


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