terça-feira, 13 de setembro de 2011

47- A PLANURA SEM FIM



 A PLANURA SEM FIM

Castilha. Capítulo aberto à criatividade.

 Após abandonar as últimas estribaciones dos Pirineos Vascones, Orfeo chegou a uma terra llanísima, ardente no verão, fria no inverno, povoada, aqui e lá, por bosques de encinas (às vezes habitados por manadas de jabalíes), que se alternaban com longos páramos estéreis.

Teve que dedicar inúmeros dias a atravessar aquelas áridas e inacabables planícies que conformavam o altiplano central de Iberia ao sul dos Pirineos Cántabros, onde a falta de estímulos externos obriga aos caminhantes a se voltar para adentro, a interiorizar e a meditar.
Só ao cair a tarde, nas casas camponesas ou nos povos, onde todo mundo estava acostumado a acolher aos peregrinos, encontrava algo de distração e de calor humano. Às vezes os lugareños ou outros peregrinos convidados, contavam histórias junto à lumbre.

Uma noite acolheu-se à cabaña de um cordial ermitaño que tinha feito a rota sagrada inteira desde o norte da Galia quando era mais jovem. Sua experiência pessoal de autoencuentro tinha sido tão intensa que decidiu abandonar quanto ainda lhe atava a seu país e estabelecer no lugar mais inclemente e solitário da planície para dar serviço como hospitalero aos peregrinos, sem pedir nada, por puro amor ao Caminho. Após ter-lhe convidado, junto com outros três caminhantes, a uma sabrosa jantar com os produtos de seu huerta, sem que tivesse provado mais que um pouco de água, o homem, contestando a suas perguntas, disse que só cultivaba suas hortalizas para quem chegasse, que levava quatro anos se alimentando tão só de líquidos, sucos ou caldo, sol e ar, e que se sentia muito bem assim. Depois relatou um conto sobre a Morte, que falava de um ser humano primordial andrógino, como o Fanes do princípio da história dos Atlantes que contou o pirenaico Jacín, e que era mais ou menos assim:

“Ao princípio dos tempos, o Ser Original (disse-o usando uma palavra que não precisava bem o gênero) tinha posto sobre o mundo a um deus a sua imagem e semelhança, ainda que revestido de um pesado corpo de terra e água, que era imortal, que era sábio e que possuía em si mesmo os dois sexos. Depois de milênios de vida sobre este plano, conheceu todo quanto se podia conhecer aqui e começou a aburrirse e a ter nostalgia do mundo do qual vinha. E a cada dia estava mais nostálgico e morriñoso, até que o Ser Original lhe mandou um negro mirlo como mensageiro para lhe dizer que, ao cabo de um tempo indeterminado, morreria, o que significava que poderia deixar na Terra seu corpo de terra e de água, enmohecido e cheio de cortezas e musgos como o de uma árvore, para regressar a sua origem com sua alma.
Efetivamente, ao cabo de uns anos e de forma inesperada, uma febre apoderou-se dele, o separou de seu corpo e o fez regressar à dimensão dos Bienaventurados. Ao princípio foi muito feliz no Céu contando suas experiências, mas depois sofria igual, porque tinha nostalgia da beleza e a aventura da Terra e ali não passava nunca nada. De modo que o Ser Original voltou-o a enviar aqui.
Quando de novo enfermó de nostalgia, o Ser Original mandou um raio que o partiu em duas metades: uma masculina e outra feminina; e um vento que as separou para extremos distantes do mundo. Assim, a nostalgia da Origem foi mudada durante anos pela nostalgia da Metade Perdida. Mas essa nostalgia era tão acuciante e estimulante que, após percorrer caminhando o mundo inteiro, conseguiram reencontrarse e se refundir todo o possível, com o qual se acabou o maravilhoso “Jogo do Amor”, que é como lhe tinham chamado a sua busca.
Então voltaram a aburrirse tanto que só se divertiam se brigando e se perdoando continuamente, até que O Ser Original enviou de novo ao mirlo para lhes dizer que, a partir de agora, a Morte viria a por eles a cada cem anos, para que não lhes desse tempo de sentir tédio.
E a seguinte vez que os mandou à Terra, o Ser Original não só os colocou em lugares muito opostos e escondidos para que demorassem mais em se encontrar, senão que, ademais, lhes tirou grande parte de sua inteligência e os rodeou de muitas limitações, para que tivesse mais dificuldade e emoção sua curta experiência sobre a vida. Ademais fez que de sua união, quando por fim se encontraram, saíssem filhos, cuja criação naquelas novas condições lhes dava tanto trabalho que já não lhes deixava tempo para aburrirse.
Como a experiência tinha dado tão bom resultado, O Ser Original dispôs que todos os animais que nascessem sobre a terra fossem também macho e hembra, estivessem rodeados de muitas limitações e morressem.
Em algum momento indeterminado, a Morte vinha pelos seres humanos e animais e levava-lhos, enquanto seus filhos permaneciam e seguiam reproduzindo-se. Após um tempo no Céu, a Morte também cortava sua vida ali e os fazia renacer na Terra, animando algum dos corpos que seus filhos engendravam, de tal maneira que, ao cabo de um verdadeiro tempo, reconhecessem a sua Outra Metade.

Quando cresceu muito o número de mulheres e de homens sobre a Terra, o Jogo da Busca do Amor, por um lado, e o trabalho para a consecución do que se considerava necessário para viver bem, por outro, se fizeram tão complexos que, às vezes, a gente se morria muito triste e aburrida, sem ter conseguido o um ou o outro, ou nenhuma das duas coisas, por muito que buscasse e trabalhasse.
Então, O Ser Original, sempre compassivo, mandou de novo a seu mirlo à Terra para avisar à Humanidade de que, a partir de agora, não precisariam passar tantos trabalhos em buscar ou produzir comida de terra e água para viver, já que, se unicamente se mantinham centrados em jogar o Jogo da Busca do Amor, lhes bastaria respirar profundo e abrir seus olhos, com toda atenção, aos primeiros raios do amanhecer e à beleza do mundo para se alimentar.
Com alimentos tão ligeiros e subtis, sem ter que trabalhar e passando seu tempo em converter todo este mundo em um mundo de amor, não se aburrirían, nem enfermarían, nem envelheceriam e sua estância na Terra, até que a Morte fosse a por eles, poderia se alongar a trezentos anos da cada vez.
O mirlo ia muito contente a levar-lhe essas excelentes notícias à Humanidade, mas ao chegar à Terra encontrou-se com que sua alma, igual que a do homem, se tinha escindido em dois naquele mundo e, inesperadamente, sentiu e vió chegar a sua Outra Metade voando pelo ar convertida em uma formosa hembra de sua espécie.
O mirlo voou apaixonado depois dela, e após muitas peripecias conseguiu a apaixonar também e se unir a ela. Fizeram um ninho, tiveram crianças e o mirlo esteve tão ocupado buscando-lhes alimento, que se esqueceu por completo da mensagem que trazia para a Humanidade.
Por causa disso, os homens e as mulheres continuamos trabalhando duro para conseguir pesada e nociva comida feita de terra e água, em lugar de se alimentar de ar e sol como correspondia a este ciclo, e isso nos produz doenças, envejecimiento e morte muito prematuramente, sem que nenhum de nós se tenha podido inteirar de que poderíamos viver perfeitamente sãos, livres e vigorosos, em lugar de perder nosso tempo de vida em tantos trabalhos innecesarios, até que tivéssemos os trezentos anos que nos foram concedidos pela Vida para poder os dedicar por completo ao Grande Jogo do Amor”.


Durante aquelas caminatas pela planície nas que parecia que jamais ia chegar àquela encina que tinha entrevisto no horizonte pela manhã, Orfeo pensou e pensou como não tinha pensado em sua vida, apesar do muito que cantava para não pensar. E teve em seu redemoinho mental alguns momentos tão pesados e desanimadores, que se sentiu tentado de abandonar aquele louco empenho no que se tinha metido e regressar a sua casa para viver uma vida normal, como a de todo mundo. Mas agüentou, a base de converter seus pensamentos em canções a toda voz, e acabou por se adaptar à meditación caminera e cantora pelo deserto e até a lhe encontrar gosto. Inclusive surpreendeu-se de sentir-se cheio de entusiasmo.
Em vários dias depois, felizmente, começou a ver de novo como o terreno se ondulaba, aumentando a variedad da vegetación. Ao outro lado de um rio próximo tinha um povo amurallado ante o qual discurría o caminho. Desde longe ouviam-se os gritos da chiquillería e sentia-se o cheiro da comida que se estava cozinhando nas primeiras casas. Orfeo pôs-se muito contente e apertou o passo.
Na entrada do povo, os guardiães obrigaram-lhe a deixar sua espada com eles se queria acolher a sua hospitalidade e tomou a má decisão de aceder, porque estava faminto. Ao dia seguinte, reclamou-a à saída, mas o chefe da guarda, um homem barbado, duro como uma pedra, lhe respondeu que só lha devolveria quando saísse de seu território pelo mesmo caminho por onde tinha vindo.
-Mas se eu vou para o Oeste, bem longe... –disse Orfeo- Como vou ir desarmado?
-Nenhum forastero pode cruzar nosso território com armas nem caçar nele desde faz dois dias e até nova ordem do Conselho –respondeu-. Mas não temas, nós mesmos protegemos aos caminhantes e lhes damos de comer se o pedem.
Orfeo insistiu, tentou negociar, rogou, ameaçou, mas aquele homem estava acostumado a seu papel e foi como falar a um muro. Finalmente, fez um gesto e quatro hombretones armados rodearam ao tracio sem agresividad, mas olhando-o de acima para abaixo em diagonal.
-Se queres tua espada ta daremos, mas não passas adiante, te voltas. Se passas sem ela não a precisarás e a tua volta te estará esperando. Essa é nossa palavra. Escolhe.

Dadas as circunstâncias, escolheu passar adiante sem sua espada, mas durante todo o dia se sentiu vejado e castrado. Em um bosque recolheu um pau longo para que lhe servisse de defesa contra os cães e os lobos, mas não se atreveu a lhe sacar ponta para não ter problemas com os seguintes guardas. Fez bem, porque devia ser um momento de guerra ou de conflito naqueles lugares e a cada aldeia estava vigiada.
-Há um grupo de bandidos forasteros na montanha –disse-lhe um vizinho que lhe deu hospitalidade-. Têm seqüestrado a uma mulher deste povo que cultivaba seu campo e têm assassinado a um pastor de outro povo do lado oeste e se levaram seus cabras, e a sua colega e seus filhos, para os vender como escravos. Por isso não se deixa passar a mais forasteros com armas. Mas já se enviaram guerreiros a lhes buscar.
Orfeo ficou ali no dia inteiro até que, ao entardecer, os guerreiros do povo regressaram cansados e com as mãos vazias. Seu anfitrião aconselhou-lhe que esperasse em um dia mais. Pela tarde, os ginetes voltaram a apresentar-se dizendo que não tinham encontrado nada novo e que o caminho estava despejado. Orfeo perguntou ao chefe se podia seguir.
-Podes... baixo tua própria responsabilidade. Eu esperaria um par de dias mais, a que se confirmasse que já não andam por aqui.
Orfeo só teve paciência para esperar um. Quando lhe voltaram a dizer que o caminho se via vazio de estranhos, decidiu seguir. À manhã seguinte, depois que saíssem as patrulhas, se despediu da amável família que lhe tinha acolhido e começou a caminhar para umas montanhas que tinha no horizonte. A meio dia cruzou-se com os guardas, que regressavam ao povo definitivamente.
Essa noite dormiu a um lado do caminho, envolvido em sua camada entre umas rochas. Ao dia seguinte começou a ascender uma montanha bastante alta.

Quando estava a ponto de coroar a cume, saíram de repente do neblinoso bosque quatro bandidos cobertos de peles de venado, que se despregaram em semicírculo armados de lanças com pontas de ferro e as dirigiram para ele, lhe fazendo gestos de intimación, com umas caras ainda mais endurecidas que o ferro, cruzadas por rayas pintadas com tizones da fogueira, nas que se podia ler uma total carência de piedade.
Orfeo viu que pouco poderia fazer contra eles com seu pau sem ponta, de modo que se decidiu rapidamente por fazer o mago. Recordando que tinha conseguido em seu Tracia natal que até algumas feras dos montes se amansaran ante sua música, jogou mão de sua lira, solicitou com força a proteção de Hermes e se plantou bem erguido no meio do caminho, concentrado em tocar com maestría um hino que tinha ido compondo em honra do Deus dos Caminhos, enquanto sorria ao mesmo tempo, para não mostrar temor. Os quatro selvagens olhavam-no surpreendidos de que não corresse, e, pelo mesmo, não chegavam a se acercar demasiado.
Um deles, o que mais brutal parecia, rugiu como um urso e lhe arrojou seu lança, que ficou fincada e vibrando no solo, entre os pés abertos do bardo, quem, convertendo em uma estrofa cantada sua confiança em que ninguém podia lhe fazer dano e que os deuses estavam com ele se ele o cria sem a menor dúvida, a foi repetindo em diferentes tonalidades, mantendo o ânimo em sua voz e convertendo em uma melodia tão enérgica e imperiosa que, lhe vendo tão seguro de si mesmo, quase amenazante, os quatro energúmenos o tomaram por um feiticeiro poderoso, perderam de repente seu valor e se dispersaram, se ocultando de novo no bosque e deixando abandonada uma lança mais em seu supersticiosa fuga.
Orfeo respirou aliviado e recolheu ambas lanças, separou as folhas de seus paus e com as mesmas sensatas que as uniam, as anudó em aspa formando uma cruz. Depois fincou a folha de abaixo na ponta de um longo e delgado tronco de árvore que alguma tormenta tinha desgajado e o levantou sobre a cume do monte, em agradecimiento a Hermes, assegurando sua base contra os ventos com uma pirámide de pedras que, umas sobre outras, foi acumulando. Depois disso, repetiu jubilosamente seu hino ao deus e seguiu seu caminho pensando que não precisava armas, porque a arma melhor era sua própria segurança de que nada mau poderia lhe ocorrer.
Mas pouco durou seu contente e seu convencimiento, porque, assim que começou a caminhar de novo, viu-se rodeado de repente por outros oito guerreiros, trazidos pelos quatro de dantes, os quais, sem lhe dar a possibilidade de se pôr a tocar seu instrumento, caíram sobre ele, o inmovilizaron e lho levaram a golpes e trompicones montanha abaixo, bastante adentro de um bosque que descia por um barranco para um profundo canhão rocoso, onde mais dois guerreiros custodiavam um redil improvisado entre a cañada e o rio, no que tinha um grupo de cavalos, uma manada de cabras, duas mulheres e dois meninos atados e também amordazados. O fragor da torrente afogava os balidos e os relinchos dos animais.
Puseram-no com o resto dos prisioneiros, amarrándole as mãos às costas e deixando com o peito contra o solo, de tal maneira que seu pescoço estava atado ao mesmo pau que suas pernas dobradas para atrás. Também lhe meteram um trapo na boca, de maneira que nem parlamentar com eles podia.
Esgotada a tarde, caiu sobre o barranco uma sombra angustiosa, úmida e fria, que calava os ossos. Não lhe deram de cenar, apesar de que lhes sobrava comida e de que sim alimentaram a seus colegas com carne de cabra crua, já que não queriam acender fogos. Tentou soltar-se de muitas maneiras, mas parecia que só conseguia que os nodos lhe apertassem mais dolorosamente. A angústia apoderou-se dele, mas se lhe prestava atenção, se voltaria louco; de modo que para colocar sua mente em outra coisa, cantou mentalmente toda a noite.

A cada vez que um pensamento de desesperanza lhe atacava, fazia um chamada interior a Eurídice e depois rezava a Hermes; assim que tranqüilizava-se algo, seguia cantando. Daria qualquer coisa por poder aliviar sua tensão tocando a lira, mas, como era o primeiro que lhe tinham tirado, se contentou com se imaginar que a tocava e esteve repasando toda a Canção Ocidental. Finalmente, conseguiu ficar dormido.


     

Después de abandonar las últimas estribaciones de los Pirineos Vascones, Orfeo llegó a una tierra llanísima, ardiente en el verano, fría en el invierno, poblada, aquí y allá, por bosques de encinas (a veces habitados por manadas de jabalíes), que se alternaban con largos páramos estériles.
Tuvo que dedicar incontables días a atravesar aquellas áridas e inacabables llanuras que conformaban el altiplano central de Iberia al sur de los Pirineos Cántabros, donde la falta de estímulos externos obliga a los caminantes a volverse hacia adentro, a interiorizar y a meditar.
Sólo al caer la tarde, en las casas campesinas o en los pueblos, donde todo el mundo estaba acostumbrado a acoger a los peregrinos, encontraba algo de distracción y de calor humano. A veces los lugareños u otros peregrinos convidados, contaban historias junto a la lumbre.

Una noche se acogió a la cabaña de un cordial ermitaño que había hecho la ruta sagrada entera desde el norte de la Galia cuando era más joven. Su experiencia personal de autoencuentro había sido tan intensa que decidió abandonar cuanto aún le ataba a su país y establecerse en el lugar más inclemente y solitario de la llanura para dar servicio como hospitalero a los peregrinos, sin pedir nada, por puro amor al Camino. Después de haberle convidado, junto con otros tres caminantes, a una sabrosa cena con los productos de su huerta, sin que él mismo hubiese probado más que un poco de agua, el hombre, contestando a sus preguntas, dijo que sólo cultivaba sus hortalizas para quien llegara, que llevaba cuatro años alimentándose tan sólo de líquidos, jugos o caldo, sol y aire, y que se sentía muy bien así. Luego relató un cuento sobre la Muerte, que hablaba de un ser humano primordial andrógino, como el de aquel Fanes del principio de la historia de los Atlantes que contara el pirenaico Jacín, y que era más o menos así:

“Al principio de los tiempos, el Ser Original (lo dijo usando una palabra que no precisaba bien el género) había puesto sobre el mundo a un demiurgo, emanado de sí a su imagen y semejanza, quien, aunque revestido de un pesado cuerpo de tierra y agua, era inmortal, era sabio y poseía en sí mismo los dos sexos. Tras milenios de vida sobre este plano, el demiurgo conoció todo cuanto se podía conocer aquí y empezó a aburrirse y a tener nostalgia del mundo de absoluta pureza del cual venía. Y cada día estaba más nostálgico, hasta que el Ser Original le mandó un negro mirlo como mensajero para decirle que, al cabo de un tiempo indeterminado, moriría, lo cualsignificaba que podría dejar en la Tierra su cuerpo de tierra y de agua, enmohecido y lleno de cortezas y musgos como el de un árbol, para regresar a su origen con su alma.
Efectivamente, al cabo de unos años y de forma inesperada, una fiebre se apoderó de él, lo separó de su cuerpo y lo hizo regresar a la dimensión de los Bienaventurados. Al principio fue muy feliz en el Cielo contando sus experiencias, pero después sufría, porque igualmente tenía nostalgia de la belleza y la aventura de la Tierra …y allí no pasaba nunca nada. Así que el Ser Original lo volvió a enviar aquí.
Cuando de nuevo enfermó de nostalgia, el Ser Original mandó un rayo que lo partió en dos mitades: una masculina y otra femenina; y un viento que las separó hacia extremos distantes del mundo. Así, la nostalgia del Origen fue cambiada durante años por la nostalgia de la Mitad Perdida. Ahora bien, esa nostalgia era tan acuciante y estimulante que, después de recorrer caminando el mundo entero, ambas partes  lograron reencontrarse y refundirse  cuanto posible, con lo cual se acabó el maravilloso y apasionante  “Juego del Amor”, que es como habían dado en llamar al juego de su mutua búsqueda.
Entonces volvieron a aburrirse tanto que sólo se divertían peleándose y perdonándose continuamente, hasta que El Ser Original envió de nuevo al mirlo para decirles que, a partir de ahora, la Muerte vendría a por ellos cada cien años, para que no les diera tiempo de sentir tedio.
Y la siguiente vez que los mandó a la Tierra, el Ser Original no sólo los colocó en lugares muy opuestos y escondidos (para que tardaran más en encontrarse), sino que, además, les quitó gran parte de su inteligencia y los rodeó de muchas limitaciones, para que tuviera más dificultad y emoción su corta experiencia sobre la vida y encontrasen la armonía a través del conflicto, el apoyarse mutuamente, el perdón y la reconciliación. Además hizo que de su unión, cuando por fin se encontraron, salieran hijos, cuya crianza en aquellas nuevas condiciones les obligase a tanto servicio abnegado, que ya no les dejaba tiempo para aburrirse.
Como la experiencia había dado tan buen resultado, El Ser Original dispuso que todos los animales que naciesen sobre la tierra fuesen también macho y hembra, estuviesen rodeados de muchas limitaciones que les hiciesen desarrollar la consciencia rápidamente y muriesen.
En algún momento indeterminado, la Muerte venía por los seres humanos y animales y se los llevaba, mientras que sus hijos permanecían y seguían reproduciéndose. Después de un tiempo en el Cielo, la Muerte también cortaba su vida allí y los hacía renacer en la Tierra, animando alguno de los cuerpos que sus hijos engendraban, de tal manera que, al cabo de un cierto tiempo, reconocieran a su Otra Mitad.

Cuando creció mucho el número de mujeres y de hombres sobre la Tierra, el Juego de La Búsqueda del Amor, por un lado, y el trabajo para la consecución de lo que se consideraba necesario para vivir bien, por otro, se hicieron tan absurdamente competitivos, acumulativos, complicados e  insaciables, y de tal manera se perdió el recuerdo del verdadero sentido de la existencia, que, para satisfacer las demandas insaciables de gula y lujos de la gente que amaban, los seres humanos casi destruyeron el planeta, por medio de guerras y de explotación desmedida de los reinos mineral, vegetal y animal, sin que eso sirviese para hacerles más felices, pues la mayoría se moría muy tristes, decepcionados, insatisfechos  y aburridas, sin haber conseguido satisfacer sus ambiciones artificiosas e  ilimitadas,  por mucho que buscasen y trabajasen.
Entonces, El Ser Original, siempre compasivo, mandó de nuevo a su mirlo a la Tierra para avisar a la Humanidad de que, a partir de ahora, no necesitarían pasar tantos trabajos en buscar o producir comida de tierra y agua para vivir, ya que, si unicamente se mantenían centrados en jugar el Juego de la Búsqueda del Verdadero Amor, les bastaría respirar profundo y abrir sus ojos, con toda atención, a los primeros rayos del amanecer y a la belleza del mundo para alimentarse.
Con alimentos tan ligeros y sutiles, sin tener que trabajar y pasando su tiempo en convertir todo este mundo, incluyendo todos los reinos de la Naturaleza,  en un mundo de Armonía y Paz, lo que supondría pasar del Amor Humano al Amor Incondicional Suprahumano, una octava superior de consciencia, no se aburrirían, ni enfermarían, ni envejecerían y su estancia en la Tierra, hasta que la Muerte fuese a por ellos para renovarles, podría alargarse a trescientos años de cada vez.
El mirlo iba muy contento a llevarle esas excelentes noticias a la Humanidad, pero al llegar a la Tierra se encontró con que su alma, igual que la del hombre, se había escindido en dos en aquel mundo e, inesperadamente, sintió y vió llegar a su Otra Mitad volando por el aire convertida en una hermosa hembra de su especie.
Sus hábitos e instintos anteriores fueron más fuertes que su sentido de responsabilidad por la misión que traía. El mirlo voló apasionado tras ella, y después de muchas peripecias consiguió  unirse con ella. Hicieron un nido, tuvieron crías y el mirlo estuvo tan ocupado buscando alimento convencional, y aquel alimento pesado  enrijeció tanto sus percepciones, que se olvidó por completo del mensaje que traía para la Humanidad. 
Por causa de ello, los hombres y las mujeres, y los animales, continúan trabajando duro y destruyendo la naturaleza para conseguir pesada y nociva comida hecha de tierra y agua, en lugar de alimentarse de aire y sol como correspondía a este ciclo, y eso nos produce enfermedades, envejecimiento y muerte muy prematuramente, sin que casi ninguno de nosotros se haya podido enterar de que podríamos vivir perfectamente sanos, libres y vigorosos, en lugar de perder nuestro tiempo de vida en tantos trabajos innecesarios e irresponsables, hasta que tuviésemos los trescientos años que nos fueron concedidos por la Vida para poder dedicarlos por completo al Gran Juego Evolutivo del Amor”.


Durante aquellas caminatas por la llanura en las que parecía que jamás iba a llegar a aquella encina que había entrevisto en el horizonte por la mañana, Orfeo pensó y pensó como no había pensado en su vida, a pesar de lo mucho que cantaba para no pensar. Y hubo en su remolino mental algunos momentos tan pesados y desanimadores, que se sintió tentado de abandonar aquel loco empeño en el que se había metido y regresar a su casa para vivir una vida común y normal, como la de todo el mundo. Pero aguantó, a base de convertir sus pensamientos en canciones a toda voz, y acabó por adaptarse a la meditación caminera y cantora por el desierto y hasta a encontrarle gusto. Incluso se sorprendió de sentirse lleno de entusiasmo.
Varios días después, afortunadamente, comenzó a ver de nuevo como el terreno se ondulaba, aumentando la variedad de la vegetación. Al otro lado de un río próximo había un pueblo amurallado ante el cual discurría el camino. Desde lejos, se oían los gritos de la chiquillería y se sentía el olor de la comida que se estaba cocinando en las primeras casas. Orfeo se puso muy contento y apretó el paso.
En la entrada del pueblo, los guardianes le obligaron, tras tener que aceptar un registro, a dejar su espada corta con ellos si quería acogerse a su hospitalidad …y tomó la mala decisión de acceder, porque estaba hambriento. Al día siguiente, la reclamó a la salida, pero el jefe de la guardia, un hombre barbado, ordenancista y duro como una piedra, le respondió que sólo se la devolvería cuando saliera de su territorio por el mismo camino por donde había venido.
-Pero si yo voy hacia el Oeste, muy lejos... –dijo Orfeo- ¿Cómo voy a ir desarmado?
-Ningún forastero puede cruzar nuestro territorio con armas ni cazar en él desde hace dos días y hasta nueva orden del Consejo –respondió-. Pero no temas, nosotros mismos protegemos a los caminantes y les damos de comer si lo piden.
Orfeo insistió, intentó negociar, rogó, amenazó, pero aquel hombre se sentía más importante cuanto más pesada e impositiva era la ley que interpretaba con su propia rigidez, así que fue como hablarle a un muro. Finalmente, hizo un gesto y cuatro hombretones armados rodearon al tracio sin aparente agresividad, pero mirándolo de arriba hacia abajo en diagonal.
-Si quieres tu espada te la daremos, pero no sigues adelante, te vuelves. Si pasas sin ella no la necesitarás y a tu vuelta te estará esperando. Esas son tus opciones. Escoge.

Dadas las circunstancias, escogió pasar adelante sin su espada, pero durante todo el día se sintió vejado y castrado. En un bosque recogió un palo largo para que le sirviera de defensa contra los perros y los lobos, pero no se atrevió a sacarle demasiada punta para no tener problemas con los siguientes guardias. Hizo bien, porque debía ser un momento de guerra o de conflicto en aquellos parajes y cada aldea estaba vigilada.
-Hay un grupo de bandidos forasteros en la montaña –le dijo un vecino que le dio hospitalidad-. Han secuestrado a una mujer de este pueblo que cultivaba su campo y han asesinado a un pastor de otro pueblo del lado oeste y se han llevado sus cabras, y a su compañera y sus hijos, para venderlos como esclavos. Por eso no se deja pasar a más forasteros con armas. Pero ya se han enviado guerreros a buscarles.
Orfeo se quedó allí el día entero hasta que, al atardecer, los guerreros del pueblo regresaron cansados y con las manos vacías. Su anfitrión le aconsejó que esperara un día más. Por la tarde, los jinetes volvieron a presentarse diciendo que no habían encontrado nada nuevo y que el camino estaba despejado. Orfeo preguntó al jefe si podía seguir.
-Puedes... bajo tu propia responsabilidad. Yo esperaría un par de días más, hasta que se confirmara que ya no andan por aquí.
Orfeo sólo tuvo paciencia para esperar uno. Cuando le volvieron a decir que el camino se veía vacío de extraños, decidió seguir. A la mañana siguiente, luego que salieron las patrullas, se despidió de la amable familia que le había acogido y comenzó a caminar hacia unas montañas que había en el horizonte. A mediodía se cruzó con los guardias, que regresaban al pueblo definitivamente.
Esa noche durmió a un lado del camino, envuelto en su capa entre unas rocas. Al día siguiente comenzó a ascender una montaña bastante alta.

Cuando estaba a punto de coronar la cima, salieron de repente del neblinoso bosque cuatro bandidos cubiertos de pieles de venado, que se desplegaron en semicírculo armados de lanzas con puntas de hierro y las dirigieron hacia él, haciéndole gestos de intimación, con unas caras aún más endurecidas que el hierro, cruzadas por rayas pintadas con tizones de la hoguera, en las que se podía leer una total carencia de piedad.
Orfeo vio que poco podría hacer contra ellos con su palo sin punta, así que se decidió rápidamente por intentar hacer el mago. Recordando que había logrado en su Tracia natal que hasta algunas fieras de los montes se amansaran ante su música, echó mano de su lira, solicitó con fuerza la protección de Hermes y se plantó bien erguido en medio del sendero, concentrado en tocar con maestría un himno que había ido componiendo en honor del Dios de los Caminos, mientras sonreía al mismo tiempo, para no mostrar temor. Los cuatro facinerosos lo miraban sorprendidos de que no corriera, y, por lo mismo, no llegaban a acercarse demasiado.
Uno de ellos, el que más brutal parecía, rugió como un oso y le arrojó su lanza, que quedó clavada y vibrando en el suelo, entre los pies abiertos del bardo, quien, convirtiendo en una estrofa cantada su confianza en que nadie podía hacerle daño y que los dioses estaban con él si él lo creía sin la menor duda, la fue repitiendo en distintas tonalidades, manteniendo el ánimo en su voz y convirtiéndola en una melodía tan enérgica e imperiosa que, viéndole tan seguro de sí mismo, casi amenazante, los cuatro energúmenos lo tomaron por un hechicero poderoso, perdieron de pronto su valor y se dispersaron, ocultándose de nuevo en el bosque y dejando abandonada una lanza más en su supersticiosa fuga.
Orfeo respiró aliviado y recogió ambas lanzas, separó las hojas de sus palos y con las mismas cuerdas que las unían, las anudó en aspa formando una cruz. Luego clavó la hoja de abajo en la punta de un largo y delgado tronco de árbol que alguna tormenta había desgajado y lo levantó sobre la cima del monte, en agradecimiento a Hermes, asegurando su base contra los vientos con una pirámide de piedras que, unas sobre otras, fue acumulando. Tras ello, repitió jubilosamente su himno al dios y siguió su camino, pensando que no necesitaba armas y que la mejor arma era su propia seguridad de que nada malo podría ocurrirle.
            Pero poco duró su contento y su convencimiento porque, en cuanto reemprendió la marcha, se vio rodeado de pronto por otros ocho matones, traídos por los cuatro de antes, los cuales, sin darle la posibilidad de ponerse a tocar su instrumento, cayeron sobre él, lo inmovilizaron y se lo llevaron a golpes y trompicones montaña abajo, bastante adentro de un bosque que descendía  por un barranco hacia un profundo cañón rocoso, donde dos guerreros más custodiaban un redil improvisado entre la cañada y el río, en el que había un grupo de caballos, una manada de cabras, dos mujeres y dos niños, atados y también amordazados. El fragor del torrente ahogaba los balidos y los relinchos de los animales.
Lo pusieron con el resto de los prisioneros, amarrándole las manos a la espalda y dejándolo con el pecho contra el suelo, de tal manera que su cuello estaba atado al mismo palo que sus piernas dobladas hacia atrás. También le metieron un trapo en la boca, de modo que ni parlamentar con ellos podía.
Agotada la tarde, cayó sobre el barranco una sombra angustiosa, húmeda y fría, que calaba los huesos. No le dieron de cenar, a pesar de que les sobraba comida y de que sí alimentaron a sus compañeros con carne de cabra cruda, ya que no querían encender fuegos. Intentó soltarse de muchas maneras, pero parecía que sólo conseguía que los nudos le apretasen más dolorosamente. La angustia se apoderó de él, pero si le prestaba atención, se volvería loco; así que para colocar su mente en otra cosa, cantó y rezó mentalmente toda la noche.



Cuando estaba a punto de coronar la cima, salieron de repente del neblinoso bosque cuatro bandidos cubiertos de pieles de venado, que se desplegaron en semicírculo armados de lanzas con puntas de hierro y las dirigieron hacia él, haciéndole gestos de intimación, con unas caras aún más endurecidas que el hierro, cruzadas por rayas pintadas con tizones de la hoguera, en las que se podía leer una total carencia de piedad.

Orfeo vio que poco podría hacer contra ellos con su palo sin punta, así que se decidió rápidamente por intentar hacer el mago. Recordando que había logrado en su Tracia natal que hasta algunas fieras de los montes se amansaran ante su música, echó mano de su lira, solicitó con fuerza la protección de Hermes y se plantó bien erguido en medio del sendero, concentrado en tocar con maestría un himno que había ido componiendo en honor del Dios de los Caminos, mientras sonreía al mismo tiempo, para no mostrar temor. Los cuatro facinerosos lo miraban sorprendidos de que no corriera, y, por lo mismo, no llegaban a acercarse demasiado.
Uno de ellos, el que más brutal parecía, rugió como un oso y le arrojó su lanza, que quedó clavada y vibrando en el suelo, entre los pies abiertos del bardo, quien, convirtiendo en una estrofa cantada su confianza en que nadie podía hacerle daño y que los dioses estaban con él si él lo creía sin la menor duda, la fue repitiendo en distintas tonalidades, manteniendo el ánimo en su voz y convirtiéndola en una melodía tan enérgica e imperiosa que, viéndole tan seguro de sí mismo, casi amenazante, los cuatro energúmenos lo tomaron por un hechicero poderoso, perdieron de pronto su valor y se dispersaron, ocultándose de nuevo en el bosque y dejando abandonada una lanza más en su supersticiosa fuga.
Orfeo respiró aliviado y recogió ambas lanzas, separó las hojas de sus palos y con las mismas cuerdas que las unían, las anudó en aspa formando una cruz. Luego clavó la hoja de abajo en la punta de un largo y delgado tronco de árbol que alguna tormenta había desgajado y lo levantó sobre la cima del monte, en agradecimiento a Hermes, asegurando su base contra los vientos con una pirámide de piedras que, unas sobre otras, fue acumulando. Tras ello, repitió jubilosamente su himno al dios y siguió su camino, pensando que no necesitaba armas y que la mejor arma era su propia seguridad de que nada malo podría ocurrirle.
            Pero poco duró su contento y su convencimiento porque, en cuanto reemprendió la marcha, se vio rodeado de pronto por otros ocho matones, traídos por los cuatro de antes, los cuales, sin darle la posibilidad de ponerse a tocar su instrumento, cayeron sobre él, lo inmovilizaron y se lo llevaron a golpes y trompicones montaña abajo, bastante adentro de un bosque que descendía  por un barranco hacia un profundo cañón rocoso, donde dos guerreros más custodiaban un redil improvisado entre la cañada y el río, en el que había un grupo de caballos, una manada de cabras, dos mujeres y dos niños, atados y también amordazados. El fragor del torrente ahogaba los balidos y los relinchos de los animales.
Lo pusieron con el resto de los prisioneros, amarrándole las manos a la espalda y dejándolo con el pecho contra el suelo, de tal manera que su cuello estaba atado al mismo palo que sus piernas dobladas hacia atrás. También le metieron un trapo en la boca, de modo que ni parlamentar con ellos podía.
Agotada la tarde, cayó sobre el barranco una sombra angustiosa, húmeda y fría, que calaba los huesos. No le dieron de cenar, a pesar de que les sobraba comida y de que sí alimentaron a sus compañeros con carne de cabra cruda, ya que no querían encender fuegos. Intentó soltarse de muchas maneras, pero parecía que sólo conseguía que los nudos le apretasen más dolorosamente. La angustia se apoderó de él, pero si le prestaba atención, se volvería loco; así que para colocar su mente en otra cosa, cantó y rezó mentalmente toda la noche.

Cada vez que un pensamiento de desesperanza le atacaba, hacía una llamada interior a la Diosa y luego rezaba a Hermes; en cuanto se tranquilizaba algo, seguía cantando dentro de su cabeza todos los himnos religiosos que recordaba, repitiéndolos  y repitiéndolos. Daría cualquier cosa por poder aliviar su tensión tocando la lira, pero, como era lo primero que le habían quitado, se contentó con imaginarse que la tocaba y, cuando ya las oraciones formales no conseguían interrumpírle  más los pensamientos, se concentró en  repasando toda la Canción Occidental perfeccionándola a plena creatividad, hasta los más mínimos detalles. Finalmente, logró quedarse dormido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário