domingo, 11 de setembro de 2011

25- MEDITERRÁNEO OCIDENTAL : ARRON

MEDITERRÁNEO OCIDENTAL: ARRON  



Ao dia seguinte o monarca feacio mandou-lhe chamar de novo e apresentou-o e recomendou pessoalmente ao comandante tirseno.

      Chamava-se Arron e era um homem robusto, muito alto e sério, de uns cinquenta anos, com uma majestade natural tão grande que Orfeu pensou que qualquer escultor se tivesse ficado muito contente de lhe ter como modelo para uma estátua do Rei do Mar, Poseidón, com aquela mirada líquida e nebulosa sobre a aristocrática barba, em um corpo esbelto e musculoso de atleta.
-Eu provo de uma estirpe de marinhos errantes, os tirsenos, e minha família paterna e materna está formada pelas duas melhores ramos dos gregos: os jonios e os eolios, que tiveram que emigrar a Ásia Menor por causa dos aqueus, a quem não gostam que lhes confundam com dos gregos –lhe disse o comandante Arron quando o rei Alcínoo lhes deixou sozinhos, ainda que bem atendidos por um copero, em um dos salões de seu palácio-. Meus compatriotas são os hombes livres que honram essas linhagens e minha missão é lhes ajudar a tratar de seguir sendo livres.


-Tenho conhecido a bastantes aqueus de Ptía e a alguns eolios estabelecidos na costa Trácia mas a muito poucos jonios -disse Orfeu-, salvo meus colegas argonautas Butes, o apicultor, sacerdote de Atenea, o arqueiro Falero, da casa real de Atenas e o próprio Argo, construtor da nave. Gostaria de conhecer algo de vossa história.

(Não era verdade, tinha passado em alguns dias em Atenas e conhecido bem a muitos jonios durante seu iniciação na Escola de Mistérios de Eleusis, onde lhe tinham ensinado as origens da mais recente Subraza Aria, a Quinta Subraza Solar à que pertenciam os Gregos, que proviam,como os altos e loiros bárbaros do centro e norte da Europa e os iranios, da interminável Escitia e do Norte e Este do Cáucaso, que se foram estendendo pelas orlas do Mar Caspio, o mar Negro do Norte, o Mar de Azov e os Balcanes, se misturando, ao assomar aos litorais da Pelasgia com Arios Lunares procedentes do Sul do Cáucaso, lar original da Quarta Subraza, já misturados com os pelasgos. Essa era a mistura à qual qual pertencia a tribo Trácia e a família de Orfeu,


Também seu pai e Quirão lhe tinham contado como tanto a Quarta Subraza Aria como a Quinta, muito antes de chegar ao Cáucaso, procediam de uma nobre estirpe comum que se tinha incubado em uma ilha mítica e sagrada de um grande mar que dizem que em tempos antigos existia no centro da Ásia Profunda e que também se secou quando se secou o Mar do Sahara. No entanto, estava terminantemente proibido falar daqueles assuntos com não-iniciados, porque pertenciam mais ao campo da História da Evolução da Consciência Espiritual da Humanidade que ao da mentirosa História Política das Nações e Tribos… Mas desejava estudar ao homem que talvez podia levar em sua nave até cerca de seu destino e não há melhor maneira de conhecer rapidamente a um homem e de saber como pensa e como sente, que lhe fazer falar de sua pátria e de sua linhagem, como se um fosse um ignorante sobre o tema).
-Se deseja-lo, seria para mim um prazer te contar a história de meus antepassados em um dia de descanso como hoje, no que já tenho terminado de preparar minha partida -respondeu o marinho amavelmente-. Mas é algo longa, porque, ainda que os tirsenos somos uma linhagem jovem, vimos da mistura dos jonios e eolios emigrados, como te disse, que são povos muito antigos
-Rógo-cho se realmente não tens afán, comandante, sou um bardo, recolho encantado histórias e lendas onde o encontro -insistiu Orfeu. O que fez que Arron se sentisse a gosto e fizesse um gesto ao servente, para que lhes voltasse a encher as copas.
-A saga dos verdadeiros gregos que eu conheço começa por um mito egípcio, pois mo contou um escreva do templo de Neith em Sais, para me explicar como os povos, igual que as pessoas, nascem, crescem, morrem e renacen, sem guardar lembrança de suas evoluções anteriores, já que este mundo está de contínuo se transformando radicalmente, a base de grandes cataclismos.
Dizia aquele escreva que faz muitos, muitos milênios, a primeira potência mundial, a mais esplendorosa civilização que nhubo no remoto passado, era um povo chamado os Titanes, netos de Poseidón. Vindo desde sua grande ilha do Oceano, aqueles titanes pareciam deuses, ainda que realmente eram homens de pele rojiza muito altos, guerreiros agressivos , fortes, crueis e terríveis feiticeiros. Dominaram todo o que é hoje o Mediterráneo Ocidental, incluído o litoral do Egito, e tentaram conquistar também a pátria de meus antepassados, os descendentes de Prometeo, e seu monte sagrado, o Olimpo, que então era bem mais alto e nem se sabe onde estava, já que o mundo não tinha a mesma forma que agora. A deusa Atenea tinha feito crescer a oliveira nela, pelo que eles a adotaram como patroa e chamaram Atenas a sua comunidade. Estes tenaces guerreiros, livres e disciplinados ao tempo, que tinham como deuses a Deu-Zeus e a Apolo, além de Atenea, conseguiram plantar uma dura resistência àqueles exércitos gigantes que obedeciam ao imperador Atlas ou a seus dez filhos, que eram dez poderosos reis.
Finalmente, depois de uma dura campanha de anos, libertaram aos egípcios, quem escreveram estelas de agradecimiento em seus templos, e foram recusando aos titanes para o extremo Occidente. Chegaram, inclusive, a invadir seu território islenho, afundando a um enorme númeiro de inimigos no escuro Tártaro.

Orfeu escutava aquela nova versão do mesmo, mostrando interesse e Sulpresa, ao mesmo tempo em que meditava sobre como os diferentes mitos dos povos têm algum um transfondo comum.

O egípcio disse-me -seguiu contando Arron- que, justo então, se produziu um terremoto e um diluvio, e todas as terras e nações daquele tempo se anegaron, desapareceu a cultura e se regressou ao primitivismo. E que isso já tinha sucedido outras vezes dantes. A mais velha mitología helénica tem transformado, também, a lembrança daquela guerra antiga em uma batalha de Titanes contra Olímpicos pelo domínio do mundo e do céu, que se livrou tanto na dimensão dos mortais como na dos imortais.
...Outros bardos gregos também dizem que os titanes foram tão exterminados naquelas batalhas, que Poseidón, ofendido e doído pela derrota e morte de seus filhos, varreu a terra com uma gigantesca onda que destruiu à primeira Atenas. Outros dizem que deu rienda solta ao devastador gigante Tifón, último filho do sangue de Urano desde o Tártaro, motor de todas as tormentas. Fosse como fosse, parece que teve no passado uma grande inundação, que cobriu uma enorme quantidade de terras, e da que só se salvaram alguns marinhos e montanheses. O mito conta que entre os sobreviventes estava Decaulião, filho de Prometeo que previa o futuro e lhe avisou, e sua parceira Pirra a Vermelha, filha daquela famosa Pandora, que, por causa de sua curiosidade, tinha aberto a caixa que continha todas as limitações da Nova Raça.

Ambos desembarcaram de sua nave no monte Parnaso, foram pais de Heleno, quem se uniu a Orséis. Seu filho chamou-se Éolo, pai de Juto e de Douro, a quem criou nas montanhas. Douro foi pai dos dorios, caçadores e pastores nómadas que se mantiveram, até hoje, rudos e patriarcales, nos montanhosos Balcanes de Iliria.
Juto foi pai de Ion (ainda que os vaidosos atenienses presumen de que realmente o engendrou Apolo), do segundo Éolo e de Aqueu, ascendientes dos jonios, dos eolios e dos aqueus. Diz outra lenda de marinhos que o primeiro lugar onde se estabeleceram os filhos de Juto, quando cresceu sua estirpe, foi no Sul da Itália, no archipiélago das Lípari e no espléndido golfo de Tarento.

Orfeu escutava atenciosamente a Arron. Atava os cabos dos novos dados que deixava soltos seu relato com os antigos de sua memória, sem lhe contradizer, porque silêncio é poder…ainda que tinha certeza de que aquela história antiga e mítica pertencia mais aos antigos Pelasgos que aos Gregos, uma subraza recém aparecida, que se apropriava, como todos os povos jovens fazem, da mitología de suas ancestrais remotos da subraza anterior, ou da das nações de maior linhagem e cultura às que vencem, mas que depois os assimilam .
Recordava como lhe tinham contado, na Escola de Mistérios de Eleusis, que o primeiro Éolo viveu primeiro em Tesalia, ao norte da futura Hélade, mas depois viajou para Occidente com um grupo de amigos, acabando por se estabelecer, efetivamente, na escarpada Lípari, no archipiélago das itálicas Eolias, ao norte de Sicília, onde Hera o fez guardião dos ventos do Mar Tirreno... e teve ali filhos e netos, a quem ensinou a servir dos ventos para navegar a base de velas, os quais se estenderam e foram pais de nações nas ilhas do Mediterráneo Ocidental e na península italiana. Isso explicaria de forma mítica a origem da emigração marítima (que o rei Alcínoo lhe tinha relatado em Feacia), dos aqueus ou “Povos do Mar,” biznietos de Éolo, desde as Ilhas Baleares até Itália, Iliria e o norte da Grécia, para depois invadir a Pelasgia.


 

-Depois do cataclismo, Creta -seguiu, depois de beber, o comandante-, que tinha herdado parte do conhecimento marítimo dos titanes oceánicos vencidos, cresceu e cresceu em influência civilizadora e em poderío naval, até imperar de forma indiscutible sobretudo o Mediterráneo. Meus antepassados jonios pagavam-lhes impostos, às vezes muito pesados, para poder fazer parte de sua frota. Sem dúvida se dedicariam a singladuras mercantes com Occidente, dada sua posição geográfica. Aos pelasgos e fenicios gostam de pintar a todos os gregos primitivos como rudos povos de pastores vindos do norte. Mas poderás imaginar-te que vivendo em tão magníficos portos naturais e adorando a uma deusa que representa a inteligência adulta de Zeus, tiveram que se fazer muito bons marinhos e um povo sagaz e amante do verdadeiro conhecimento: o que serve para bem viver sobre a terra.
Como o centro do comércio mundial era a Pelasgia, os ascendientes de meu pai, os jonios, contornearon com suas naves o sul do Peloponeso, se introduziram no Mar dos Cretenses e na península pelásgica, ao princípio como comerciantes e depois como piratas, em pequenos mas aguerridos contingentes, que ofereceram seus serviços às matriarcas, em plano mercenários, para manter ao país defendido... deles mesmos. Seus chefes foram eliminando aos reis-sacerdotes consortes dos pelasgos e obrigaram às rainhas-sacerdotisas, que formavam a casta dirigente das diferentes comunidades, a que se casassem com eles, seus novos guardiães, com o qual se aduenharon da metade do poder hereditario que elas exerciam, e de algumas regiões.
Mas as sacerdotisas, com muita mão esquerda, souberam fazer-lhes sentir-se a gosto entre os luxos de seu antigo modelo de civilização, convencendo-lhes de que lhes convinha mais que respeitassem seus costumes, que seguissem entregando parte dos tributos de seus súbditos a Creta e que venerasen a sua Grande Mãe. Assim, os invasores, ao integrar na elite dominante, passaram a ser chamados “Grai-Koi” ou Gregos, que significa “Adoradores da Deusa Cinza, ou da Deusa Antiga.”
Os gregos jonios fundaram no Ática uma cidade que homenageava o nome da deusa Atenea, Atenas como a ancestral, desaparecida. E foram os primeiros, quando outro maremoto varreu a sua vez Creta (e após que os sicilianos, ajudados pelos talentos de Dédalo, afundassem o que ficava da frota cretense), em organizar desde ali uma expedição que saqueuu Knossos, sua capital. O que estabeleceu uma nova ordem no Mar Pelasgo, agora chamado Egeu, que já sabes que é um nome jonio, o do pai do herói ateniense Teseo, vencedor do Minotauro, ou seja, para nos entender, vencedor da coação hegemónica que Creta exercia sobre os pelasgos.

Ganhar uma guerra é importante, mas mais importante é ganhar a paz. Os sucessores de Teseo –seguiu relatando o marinho tirseno- também souberam se integrar de forma flexível e modélica, tanto com os cretenses e pelasgos submetidos da península e ilhas, (simplesmente deixando que a Grande Mãe declarasse, por médio das sacerdotisas, que os deuses varões dos helenos eram seus filhos), como com os seguintes invasores gregos e primos seus, meus antepassados maternos, os Eolios, que chegaram cruzando Macedonia e trácia, a quem os Jonios recomendaram a mesma política de talante aberto e integração com inteligência, se aliando ambos linhagens para recuperar e continuar mantendo a ordem marítima que os cretenses tinham construído tão trabajosamente.
Assim, depois de um inevitável retrocesso, a civilização pelasga, agora mestizada com os gregos, se readaptó a um naciente patriarcalismo bastante tolerante e, pouco a pouco, se ia voltando a uma coexistencia mais ou menos tensa, que recordava algo à dos tempos de Minos... até que chegaram, como uma torrente, os outros primos gregos, os durísimos e intransigentes aqueus, que formavam com jonios e eolios o terceiro ramo do tronco original dos netos de Decaulião.

Baixando com suas carroças de guerra desde o país dos Tesprotes, vieram rapidamente sobre o centro e o sul da Península Egea, tomando cidade depois de cidade, apesar de suas muralhas, e estabelecendo suas capitais principais em Micenas e Esparta.
Os aqueus debocharam-se de seus primos jonios e eolios por ter-se deixado “amansar pelas matriarcas” e não quiseram saber nada de integração inteligente com os costumes pelasgas. Naturalmente, aos orgulhosos filhos de Aqueu, netos de Juto, biznietos de Éolo e tataranietos de Heleno, não gostavam nada que lhes chamassem De Gregos, ainda que já todo mundo o faz, hoje em dia. Eles sempre se chamaram a si mesmos Helenos, com o nome de seu tatarabuelo, e lhe deram o de Hélade ao país que lhes tinham conquistado aos pelasgos. Acusaram a nossos pais de que sua diplomática adaptação à cultura dos vencidos era pura decadência e se dispuseram a instaurar uma nova ordem, que acabasse com qualquer oposição ao patriarcado total. Ao mesmo tempo, foram arrebatando-nos o poder sobre nossos territórios e saquearam Creta de novo. 

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