domingo, 11 de setembro de 2011
30- AS SERÉIAS
AS SERÉIAS
A mágica maneira de cantar e tocar de Orfeu e a força de seu sentimento não só animou, cautivó e entretuvo aos marinheiros tirsenos, lidios e focenses que iam com ele, todos homens livres, senão que também contribuiu aos salvar de perecer afogados no perigoso estreito que separa a Itália e Sicília, abundante em sirenas, segundo se dizia.
Passava de barco a barco entre os marinhos em Naxos a notícia da morte, fazia anos, de seis homens-centauro, procedentes de Ptía quem, tendo fugido em uma nave da perseguição de Hércules depois de um combate terrível, acabaram sendo devorados pelas rompientes, contra as que se arrojaram, enloquecidos pelos cánticos que ouviam obsessivamente em suas cabeças, segundo relatavam os dois únicos sobreviventes.
Os ilhotes apareceram de repente à vista, entre as agitadas ondas, com suas cimeiras penhascosas plagadas de numerosísimas bandadas de brancas aves, que alçaram o vôo sobre eles ao lhes divisar e que encheram o ar, ao redor da nave, de uma horrível algarabía. O bardo sabia que, a pouco que os remeros começassem a se deixar obsedar por ela, começariam a se imaginar que aqueles grandes pajarracos, que por todas partes se colaban, tinham cabeça de mulher e cantavam, e se adormeceriam com a doçura e a sensualidad de uns cánticos que não eram mais que uma ilusão da mente. Qualquer descuido no meio daquele archipiélago semisumergido de arrepiadas rochas lhes faria avariar o capacete contra elas e servir de esmagado pasto aos voraces buitres marinhos e aos peixes.
Dessa forma e seguindo esses ritmos, as três naves, com a “Tursha” abrindo e marcando o caminho e o ritmo às demais, conseguiram superar o promontório Pelorus e a plaga de pajarracos marinhos, que foram retornando a suas rochas. Ao cabo de um momento, puderam alçar de novo as velas para aproveitar um cálido vento do sul que lhes ajudou a remontar a costa de Calabria. Orfeu deixou de cantar, os remeros puderam descansar então e o primeiro que fizeram foi uma longa ovação em honra de sua bardo, que lhes tinha sabido manter bem coordenados e atentos durante aquele pesadelo.
A lenda das sirenas vinha de mitologías muito antigas, que as faziam servidoras da Deusa da Morte, quem as enviava a recolher as almas dos náufragos para as levar ao Ultramundo. Os marinhos eram muito supersticiosos e com só ver cerca do barco uma bandada de cernícalos marinhos, lhes parecia um sinal de tão mau agüero, que facilmente entravam em pânico no momento em que mais sangue frio e sincronía se precisava.
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