domingo, 11 de setembro de 2011

22- FENÍCIOS NO OCEANO

22- FENÍCIOS NO OCEANO    

      -Capitão, fala-me um pouco mais dessas famosas Ilhas Casitérides do Fim do Mundo que mencionaste dantes, faz favor -pediu Orfeu, lhe servindo mais vinho. 

-Pois já os pelasgos cretenses percorriam todas as rotas do mar ocidental, e inclusive chegavam a algumas dessas remotas ilhas, que estão bem ao norte, no Oceano Aberto, que possivelmente eram restos do continente da Era Anterior, de onde dizem que saíram os semitas originais, mais tarde conquistados por seus rivais, os acadianos, nossos ancestros, que já eram excelentes marinhos, em um mar que era muito maior que o que vemos agora, quando ainda os fenicios nem existíamos como navegantes, nem muito menos os gregos.

-E daí é o que iam buscar tão longe os cretenses?
-Iam buscar o kassiteros, o estanho, e também chumbo, que são as aleaciones que dão dureza ao cobre e que o convertem em bronze... Aí na ilha da Chipre, a uma terceira parte do caminho entre Tiro e Creta, podemos extrair todo o cobre que queiramos, mas sem esses minerais preciosos não teríamos melhores armas e ferramentas que aqueles povos atrasados que ainda usam pontas de seta e machados de pedra.
-Descobriram os cretenses essas ilhas e sua estanho? -perguntou Orfeu.
-Quem descobriu-as, nem sabe-se, até há lendas arcaicas que dizem que a classe dominante cretense mesma procedia do Sul de Iberia, de onde se trouxe o culto ao touro... contaram-me no porto de Faros, nas bocas do Nilo -disse o fenicio em tom confidencial, depois de ter terminado seu crátera de vinho-, que já faz muitos anos que os cretenses mudavam contas de vidro ou de loza fabricadas nas oficinas de Akhetaton, no Egito, por estanho, chumbo ou inclusive por ouro, que vinha do Extremo Occidente em placas com forma de médias luas, ou golas, ou diademas e também machados planos que os bárbaros do Oceano sabiam decorar muito bem com motivos geométricos.
-Achava que teriam sido os gregos os que primeiro chegaram ao Oceano. Disso tinham presumido sempre meus colegas argonautas.
-Não, não, Mas que saberão os gregos de tempos tão antigos! –indignou-se Beleazar- Estou falando de faz muitos, muitíssimos anos. Os gregos são uns recém chegados ao Mediterráneo… Os fenicios sim que somos uma velha estirpe, inclusive se conta que nossos antepassados, os Phalakai, eram cíclopes da Terceira Raça, Sulgidos das gotas de sangue que caíram sobre a Mãe Terra Gaia, quando Urano foi castrado por Cronos. Tinham um olho clarividente no centro da frente, eram hábeis artesãos e gigantes, ainda que seus descendentes foram diminuindo de tamanho ao cruzar com os navegantes Acadianos da Quarta Raça, Todo isso são mitos pelasgos das Idades Escuras, que algo indicam. Agora, o que sim é seguro é que, quando os filhos de Heleno eram uns pastores asiáticos de carneros e ainda nem se chamavam gregos, nós já navegávamos bem no Grande Verde, .trabalhando para os asirios, os cretenses, os egípcios, ou para quem pudesse pagar bem por nossas mercadorias... meus avôs contavam que um imperador asirio, Sargón, acho que lhe chamavam, conquistou a Síria e todo Canaán e usou naves mercantes cretenses para chegar a Iberia e explorar parte do Oceano. Quando os reis Minos reinavam em Creta, as penínsulas e ilhas do mar Egeu, que era seu lago particular, viveram muitos anos de relativa paz, cultura e prosperidade, garantidos pelo poderío da frota cretense, que, junto a seus aliados pelasgos, especialmente os Carios da Ásia Menor, se tinham estendido por todo o Mediterráneo, até o Oceano e até as Casitérides...

 

As galeras de Minos impunham uma ordem necessária no Egeu, ainda que tivesse que lhes pagar os tributos que, de todas formas, sempre há que lhe pagar ao mais forte, incluídos um número anual de jovens para ser sacrificados à Deusa, que era a mesma Deusa do resto dos pelasgos, com um nome cretense. Os cretenses eram a maior potência naval que tinha.

-A maior? - Orfeu nunca se tivesse imaginado que uma civilização tão feminina e refinada como a cretense tivesse um exterior tão guerreiro.
-A maior. Nunca houve uma frota tão grande como a sua, tanto, que nem se preocuparam de amuralhar suas cidades, suas muralhas melhores eram suas galeras de guerra. Mantinham a paz no Mediterráneo e permitiam o comércio entre Ásia, Egito e Europa. E com o poder que tinham, se pode dizer que todas ou quase todas as naves e marinheiros mercantes ou de guerra do Egeu estavam baixo sua lei e a suas ordens... Porque aos que não estavam, os perseguiam como a piratas. Monopolizaram o comércio do cobre chipriota e armazenavam-no em lingotes em forma de peles de boi, que legitimavan lhes gravando um machado de duplo fio como marca, o Labrys... e traziam-se o chumbo e o estanho do outro lado do mundo, já que esses minerais com os que se faz o bronze foram e seguem sendo o motor do mundo e a finque das grandes fortunas, amigo meu. Melhor que o ouro.
-Que outro mineral vai ser melhor que o ouro? -perguntou o trácio. Seu professor de Administração dizia que para ganhar uma guerra ou desfrutar da paz só faziam falta três coisas: ouro, ouro e ouro.
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O bronze é o Ouro Verde e é melhor que o ouro autêntico, o amarelo -disse o fenicio-, porque o amarelo, ainda que suntuoso, não é tão necessário: uma espada de ouro não te serve para te defender, não agüenta dois golpes seguidos sem se dobrar; o bronze é outra coisa.
E isso do ferro? -perguntou Orfeu fazendo-se o tonto. Seu pai, o rei Eagro, tinha estado recebendo regularmente, desde fazia muitos anos, muitos preciosos relatórios secretos sobre os progressos dos Hititas de Anatolia em seus esforços por conseguir um metal capaz de avariar as espadas de bronze, e depois pôde-se ver muito bem como o conseguia quando os aqueus invadiram Ptía.

-O ferro? Muito caro. Não me interessa -respondeu Baleazar com suficiencia-. Estou bem informado de que essas novas tecnologias são tão complicadas de elaborar e requerem umas temperaturas tão altas que nunca se conseguirá uma grande produção nem será rentable. Ficará restrito ao uso de uns poucos matahombres ricos. Para os demais mortais, o futuro seguirá sendo do bronze por muitos séculos, amigo meu, um metal nobre. E é mais fácil vender-lhe a muitos um produto conhecido e que tem um bom preço, que a poucos uma novidade carísima... e por isso seguimos buscando mais estanho, ainda que tenha que ir a por ele até muito, bem longe.

-Mas parece que ultimamente os gregos se fizeram com o controle do Egeu Ocidental... não sê se me disseram que graças a suas espadas de ferro hititas, por verdadeiro... e que já não deixam comerciar nele aos fenicios... -apontou Orfeu com ironía.
-Bah! Qualquer paga mais por nossos produtos que os gregos -disse Beleazar resentido e desdenhoso -. Melhore-los mercados ainda estão em nossas mãos, a ilha de Samotracia, por exemplo, é um dos principais enclaves fenicios para o comércio com Tróia e com tua terra, trácia. E para isso não precisamos ir fazer tratos com esses tramposos... E nos minerais que vêm do Oceano, não podem competir connosco... Não duvides que existem para Occidente -continuou, baixando mais ainda a voz-, muitos antigos emporios e fábricas fundadas pelos cretenses que ainda não querem saber nada dos gregos e que têm preferido continuar seu comércio através de nós, os fenicios, por rotas bem controladas ou pouco conhecidas, para evitar pirateos.
-Bom, eu tenho ouvido muito sobre a expedição de Nidácrito... -apontou o trácio. Os gregos juram que Nidácrito foi o primeiro grego que trouxe a Grécia estanho das Ilhas Casitérides, comprado aos tartesios...
-E ouro, e prata, ademais -reconheceu Beleazar-, e isso lhe fez famoso. Mas podes estar seguro de que já os cretenses e nós o tínhamos trazido antes que ele... Prata por cerâmica decorada Que negócio! Ao princípio os íberos não sabiam lhe dar valor à prata... Ainda que não o pudemos pregonar, como o indiscreto de Nidácrito fez, porque não nos convinha que a concorrência se inteirasse daquela maravilhosa oportunidade, como podes supor...
-Hoje já se pode dizer, porque todo mundo o sabe -seguiu, ainda que baixando a voz de novo-, que o primeiro que enviava a seus navios a buscar o estanho das Casitérides foi o rei dos tartesios, no longínquo sul de Iberia. Ele o armazenava e lho vendia aos cretenses e depois a fenicios e gregos, que o iam buscar a Tarschisch. Os diferentes soberanos que se sucederam chegaram a ser chamados “os Reis da Prata,” não só pelas riquezas que lhes dava este comércio, senão porque eles mesmos enviavam caravanas do sul ao norte das Iberias, para que cambalachearan ferramentas, adornos pessoais ou objetos decorativos que levavam, más imitações dos cretenses e egípcios (entre nós, baratijas), a mudança do ouro e da prata dos nativos.

 

-Os tartesios? Achava que eram um povo muito bárbaro, ou um mito -disse Orfeu.

-Os tartesios do sul de Iberia são um reino grande e gente culta, a sua maneira, claro, não à dos orgulhosos gregos. Dizia-se que desciam de Acadianos da Quarta Raça e que podiam contar em verso duas mil anos de sua história e suas leis... e também são bons navegantes, não vás crer, curtidos, desde seu nascimento, nesse Oceano endemoniado de grandes marejadas -de novo Baleazar fez de sua voz um suSulro-, no entanto, eles traziam os minerais preciosos até Tarschisch desde o noroeste de Iberia, não por mar senão por terra, em caravanas bem armadas, pelo que chamavam A Rota da Prata, que subia até o país dos Gal.

 

-E daí gente era essa, os Gal?
-Uns bárbaros bastante rudos, esses sim, que habitam o Oestrymnis, o Fim do Mundo, em frente ao Oceano. E apesar de seu salvajismo, que nem deuses têm, são ainda melhores navegantes que os tartesios Por Astarté, quem navegou em suas águas peligrosísimas navegou no mar toda!
-Tão perigoso é? Gorgonas e todos esses monstros que dizem que há entre o Oceano e o Hades? -Orfeu não confiava muito nas histórias que declamaban os bardos; sabia que a cada um enfeitava a sua maneira o que tinha ouvido de seus maestros.
-Pior que isso: ventos terríveis, temporários, tempo frio e lluvioso, nevoeiros, rochas traidoras, alcantilados... e mais ao norte, gelos a deriva-a de grande tamanho que aparecem de repente junto à linha de flutuação no inverno... Inclusive no verão pode chegar sem aviso uma manada de nubarrones escuros desde o horizonte, acompanhada de vento do sul e já sabes que tens que correr em busca de uma baía bem protegida por ilhas ou promontórios, porque se te agarra o vendaval no mar aberto, podes zozobrar por causa dessas imensas ondas que se levantam no Oceano, ou ser lançado facilmente contra os arrecifes.
-E para um mar como esse terão umas boas naves esses oestrymnios?
-Não, e aí está o mérito: em um mar assim e com uns cascarones feitos de simples peles de boi cosidas sobre quillas e cuadernas de madeira, com a maior parte da estrutura em mimbre, esses bárbaros descobriram as rotas que, desde o litoral dos galaicos, em dois ou três dias de navegação em seus barcos de couro, sempre costeando para acima e com boa mar, chegam ao Promontório Armórico, onde vivem os outros oestrymnios, os do norte.
-Chamam-se igual? É que são o mesmo povo?
-Foram-no em outro tempo, quando tinha acadianos em toda Europa. E sem dúvida têm estado comunicando-se e cruzando-se toda a vida desde que aprenderam a navegar, mas já falam línguas diferentes por causa das invasões... Em qualquer caso, para nós são muito semelhantes; são seus primos do norte. Desde ali, que ainda é continente, passa à ilha dos Albiones, quem nos falavam de outros povos muito ferozes, algo bem como os Lestrigones, que habitavam cerca deles.

-Suponho que essa última ilha que mencionaste, será o tal País do Estanho.
-Nem sonhes que te vou soltar sua localização -disse o tirio enquanto bebia-. Não a soltaria nem bêbado nem no potro de tortura. Mas esse país existe e há boa quantidade de estanho em suas pedregosas costa, fácil de carregar, ou os nativos vão conseguí-lo onde eles saibam e to vendem a bom preço. Os que no-lo venderam a nós, antes de que nos decidíssemos a continuar mais ao norte, foram os Oestrymnios do país de Gal, esses que vivem no Extremo Ocidental de Iberia, que foram os audazes que primeiro se arriscaram a navegar essas duras rotas com suas botes de couro, para trazer coisas que trocar com os tartesios... eles diziam que se pode subir de costa em costa, até que se chega ao frio país das brumas boreais e do ámbar.
-E aí acabam-se as terras? -perguntou o bardo.
-Mais para o norte que os Albiones, também falavam os oestrymnios de que ainda se encontra uma ilha, no inverno gelada, que se chama Tule, de onde às vezes descem flotillas de piratas a assaltar seus povoados litorais... mas vai-te a saber o longe que estará, porque essa gente não sabe ou não quer precisar as distâncias... ou se há algo ali que mereça a viagem e o risco. E depois há lendas que falam de outras ilhas no meio do Oceano, verdadeiros paraísos na imaginação de quem crêem nelas, mas que eu me temo que não são mais que lembranças utópicos de um continente que muitas culturas asseguram que se afundou baixo as águas, quando aquele diluvio de Utanipshim, que os pelasgos identificam com o de Decaulião e Pirra, que se salvaram nas cimeiras de Samotracia, dizem uns, ou do Parnaso, dizem outros... bah, mais mitos. O oceano está plagado de fantasías. Nada que dê bom negócio. O negócio Sulge, precisamente – afirmou Beleazar, categórico-, de atrever-se a ir para além das fantasías, até que se aclaran ou se dissipam, para converter em uma realidade nova a descobrir e explodir.

-E isso de estar o Oceano cheio de gorgonas e monstros, realmente, não são contos fenicios para despistar? -atreveu-se a perguntar Orfeu, também baixinho e sorrindo, enquanto enchia a copa do capitão.
-Contos fenicios, dizes...? Pois tens de saber, listillo, que foram precisamente os tartesios e não os fenicios, como andam dizendo os gregos jonios, quem criaram todas essas lendas de monstros terríveis e de perigos míticos que povoam o Oceano para o norte e para o sul. E não só porque queriam que nós no-lo crêssemos, a fim de seguir mantendo seu monopólio, senão porque são, de natural (ainda quando não precisem enganar para ganhar algo), bem mais exagerados e mentirosos que o mais exagerado e mentiroso dos cananeos... Até presumían de que seus antepassados acadianos tinham conquistado o império dos antigos atlantes, que habitavam uma dessas ilhas afundadas do que falam certas lendas... isso, quando não lhes dava por jactarse de ser descendentes do Faraón.

 

-No entanto, pelo que eu tenho ouvido dos gregos, agora mesmo sois os fenicios os que intentais criar um império em Occidente -disse Orfeu, por atirar da língua.
-Vamos chamar às coisas por seu nome: nós os cananeos, já sejamos tirios, ou sidonios, ou motios, ou biblitas (que é o que em verdade nos chamamos, ainda que se tenham empenhado os gregos em nos dar o mote de “fenicios”), ainda que desgraçadamente também tenhamos reis, somos um povo de trabalhadores... não somos nem queremos ser um grande país, senão uma série de cidades-estado muito independentes. Ainda quando falemos a mesma língua, sempre nos interessámos bem mais em comerciar, a cada um por nossa conta, em livre concorrência e pagando os menos impostos possíveis, que em construir um império grande, pesado e costoso, como os de Mesopotamia ou Egito, a quem tivemos que agüentar durante muitos anos, onde toda a arrecadação pública se vai em manter a uma casta de guerreiros, nobres, servidores públicos e sacerdotes . No entanto, todos esses eram as classes que dispunham de dinheiro, e a nós nos interessaram, claro, para comerciar com eles, de modo que nos convertemos em bons navegantes, fazendo de pontes entre mesopotámicos, hititas, cretenses e, sobretudo, egípcios, no Mediterráneo Oriental...

 -E o que vendíeis-lhes?
-Homem, todo mundo apreciava os panhos tirios e sidonios tenhidos de púrpura com o molusco múrice que descobrimos, bem como a excelente madeira de cedro e os papiros de Biblos. Por outra parte, os cananeos também somos, ainda que esteja mau que seja eu quem o diga, um povo bem inteligente e hábil que, de comerciantes em marfil importado, nos convertemos em experientes artesãos nesse precioso material. Nossos artífices também conseguiram obter do Egito o segredo da fabricação do vidro; aprenderam o repujado de metais e o trabalho de esmalte, são finos joyeros e realizam vasijas de metal.
-E o do estanho?
-O do estanho só veio após que se derrubassem os cretenses... E, assim que deixaram de ser um perigo nossos vizinhos mais belicosos, os hititas, porque acabaram com sua força os “povos do mar”, e porque também se debilitaram os egípcios em lutas religiosas por causa daquele iluminado de Akhenaton, que pôs seu país de pernas para o ar querendo substituir o politeísmo por um deus único -seguiu o capitão-. Quando pudemos ganhar independência e aprendemos a construir bons barcos modernos, saímos a navegar, também, pelo Adriático e pelo Mediterráneo Ocidental, sentamos as bases para a criação de um novo Canaán no Magreb, Sicília Ocidental, Cerdenha e Baleares... exploramos o Mar Vermelho, trouxemos ouro de Ofir, prata de Etiópia, cobre da Chipre...

-Como conseguiu um povo com tão pouca população se estender tanto? –perguntou, estranhado, Orfeu.
-Pois renunciando a conquistar ou colonizar, que isso é muito pouco rentable, como te disse. Em seu lugar criámos, nos enclaves mais estratégicos, pequenas fábricas fortificadas sobre promontórios e ilhas, vigiadas por mercenários locais, que formavam os eslabones de uma corrente que se estendia pelo Grande Verde... e finalmente, seguindo-a, decidimos-nos a aventurar por nossa conta no Oceano: saímos a contornear até muito ao sul a costa da África; chegamos pelo norte a Tarschisch, em busca do ouro e a prata, o chumbo e do estanho, em concorrência com os jonios e pelasgos. E eu fui um dos primeiros cananeos em subir pelo litoral dos Oestrymnios...
-Dos primeiros? -quis confirmar o trácio.

-Sim senhor, dos primeiros, juro-to por Astarté, que guie sempre minha nave –disse Beleazar solenemente, se levando a mão ao coração-... Como nosso interesse principal em Mesech, que é como lhe chamávamos nós a Iberia, eram os tartesios, quando se veio abaixo o Império Egeu de Minos, nós ocupamos o oco deixado pela frota cretense antes de que o fizessem os gregos e carregávamos sal para toda parte nos saladeros de Torre Vetusta e a Mata de Mastia, no sudeste ibérico. Era tão apreciada no interior que pagávamos com ela aos nossos porteadores ou distribuidores, e daí o nome de salário". Já introduzidos em suas redes comerciais, negociamos com os “Reis da Prata” uma permissão para fundar uma fábrica enfrente de Tarschisch; que, em princípio era, exclusivamente, para armazenar e trocar nossos produtos pelos seus. E concederam-nos espaço em uma ilha, já desde antigo habitada, que tinha um nome indígena raro, algo bem como Gadeira. Os gregos, após introduzidos nela as oliveiras, a chamaram Cotinussa e nós, uma vez fechada de muralhas, acabamos a transformando em Gádir.

-No entanto –arrematou o capitão, antes de levantar-se e pagar, para voltar ao barco-, desde Gádir e apesar das proibições de Tarschisch, que queria conservar o monopólio, no-las fomos arranjando, sem que se dessem por inteirados (porque não lhes convinha romper relações connosco), para chegar até as Casitérides... e eu fui percorrendo, como timonel às ordens do capitão Hiramis, que já morreu, primeiro as galaicas, ricas em ouro e prata, e depois as outras, já que chegamos a explorar, em duas viagens sucessivas, uma dez costa ou ilhas, grandes e pequenas, situadas mais ao norte das terras dos Oestrymnios Galaicos. E em dois delas, cujo nome me perdoarás que me reserve, conseguimos encher o barco de estanho da melhor qualidade ao melhor preço...


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