domingo, 11 de setembro de 2011

2- PAI E FILHO

PAI E FILHO
     Kalíope "a da bela voz", Sacerdotisa-Musa de Apolo e esposa do rei Eagro da Trácia, havia saudado a seu filho Orfeu com um beijo aquela manhã e pareceu-lhe que ainda estava vendo nele a mesma cara alegre, sonhadora e um tanto ingênua que tinha de menino, ainda que acabava de cumprir vinte e três anos e não deveria demorar em tomar esposa.
         Ademais, já tocava a lira e a flauta melhor que ela e quase declamaba, improvisava e cantava tão bem como ela... Lástima que essas atividades lhe tivessem feito descuidar sua formação em outras, bem mais sérias, nas que um futuro rei da Trácia, como ele, teria que estar melhor preparado.
       


Anónimo Anónimo
            -Anda Orfeu, segue, teu pai está-te esperando, tem paciência com ele, por favor.

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           -Tenho aqui dois relatórios -disse o rei Eagro, fitando-o muito seriamente com seus olhos de águia lutadora-. Um deles diz que faz um mês que não assistes a tuas práticas de governação. Outro, de teu comandante, que faz outro mês que tu pediu baixa em tua companhia, por causa de uma queda, e que ainda não te tens reincorporado, apesar de que sabe-se que já andavas perfeitamente por aí aos quinze dias. O que tens para dizer?
          -Pois que é verdade, Majestade, que tenho estado preparando um projeto que interessava-me mais durante estas últimas três ou quatro semanas. –respondeu Orfeu.
          -E que projeto pode te interessar mais que tua preparação como príncipe herdeiro? –disse o monarca severamente- Não será outro grande recital poético cantado, em companhia de teus amigos e de um coro de dançarinas?
           -Não pai, nada a ver com poesia: peço tua licença  me enrolar em uma expedição guerreira.
          
              O rei Eagro Surpreendeu-se gratamente e até sentiu verdadeiro orgulho de seu filho. Deuses, tudo chega! Quereria isso dizer que a etapa poética, junto com as inquietudes iniciais, de clara influência materna, iam ficar por fim atrás e que agora Orfeu interessava-se pelas façanhas guerreiras, como correspondia a sua idade...? Isso seria realmente um progresso.
-E daí, qual expedição é essa? -perguntou, pondo a amável face de “filhos, vosso pai ama-os”.
-Jasão de Yolkos, que foi instruído, como eu, pelo centauro Quirão no monte Pelião –explicou Orfeu-, está preparando um periplo à Cólquide em uma galera de guerra que construiu e tem convidado, mediante heraldos, a que se lhe unam os melhores príncipes e campeões... E não há nenhum nobre trácio entre eles. De modo que eu estive me informando para ver se poderia participar.
-À Cólquide...? Mas isso está  longe demais, ao outro lado do Mar Negro! -espantou-se seu pai- ...E daí, o que pretenderia-se com uma expedição como essa?
-Reclamar-lhe o Vélado d´Ouro ao rei desse país e regressar com ele para devolve-lo ao santuário de Zeus Lafistio de onde saiu.
-E para que?
-Essa é a condição que seu tio Pélias pôs a Jasão para ceder-lhe  seu direito ao trono de Ptía.
-O Vélado d´Ouro? -espantou-se ainda mais o rei Eagro- Se isso não é mais que um antigo símbolo de prosperidade para povos pastores! Uma pele velha de um carneiro que estranhamente nasceu loiro entre os primeiros arianos da Ásia Longínqua! Em cada guerra perdem-se e ganham-se cem emblemas como esse... Pára que o quer agora Pélias, esse aqueu usurpador? ...Não pode ser para coisa boa, vindo dele.
-Pélias encontrou por acaso a Jasão quando ainda seu sobrinho não conhecia-lhe e contou-lhe que essa pele é uma reliquia sagrada e uma qüestão de honra para a família real de Ptía: segundo a lenda, o Carneiro de Ouro foi enviado por Hermes para que salvasse a Hele e Frixo, primos de Jasão, que iam ser sacrificados injustamente, e levou-os até a Cólquide voando sobre seu lombo, ainda que Hele caiu ao mar e afogou-se pelo caminho. Frixo teve melhor sorte: casaram-no com uma filha do rei local, Eetes e viveu ainda bastantes anos, mas, após morrer, os colquídeos penduraram seu cadáver em uma árvore, envolvido em uma pele de boi, para que o comessem os abutres, como é o seu costume. E o Vélado d´Ouro, a pele do carneiro salvador, converteu-se para eles em uma reliquia nacional. Pélias disse que o espírito de Frixo não podia descansar em paz, nem sequer entrar no Hades, o Reino dos Mortos, e se lhe apareceu em sonhos, rogando-lhe que seus ossos fossem enterrados dignamente, segundo os rituais da Grécia, e que restituísse a pele do carneiro ao lugar sagrado de onde procedia.
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-... Mais tarde Pélias –seguiu contando Orfeu- perguntou-lhe a Jasão que faria ele, sendo rei de Ptía, “de se inteirar que alguém queria o seu trono”, e ele respondeu que o mandaria à Cólquide a enterrar a Frixo e a trazer o Vélado d´Ouro de volta, para demonstrar com essa façanha que merecia reinar... De modo que, quando foi por fim a Yolkos a reclamar o trono de seu pai, e descobriu que o mesmo homem com quem tinha que o homen com quem tinha conversado era o mesmo usurprador, Pélias voltou essas mesmas palavras contra o seu sobrinho, quem ficou comprometido por elas.... No entanto, dizem que o que em realidade suspeita ele, é que essa pele é um símbolo mágico, e por isso aceitou o desafio do seu tio.
-Está claro que teu amigo Jasão deixou-se enrolar e estou seguro de que o desafio do seu tio é só uma armadilha mortal ou um labirinto para se perderem, ele e quem se embarcar com ele... –insistiu o rei franzindo o cenho- ...E daí, o que está achando Jasão que significa esse tal símbolo mágico?
-Pois uma luz, um conhecimento que os pioneiros desta nova era devem ir buscar ao Oriente, ao país do Nascimento do Sol, onde descansam de noite os cavalos e a Carroça Solar de Febo Apolo, ao Cáucaso, de onde vieram a nossa estirpe e a dos gregos... e talvez esse conhecimento derive-se da experiência da própria aventura de ir a pelo Vélado.
 -Boh, boh, boh, tudo isso soa-me a puro esoterismo juvenil, a poesia, ou pior, a propaganda, a engano, Orfeu, a um jogo de fascinio de Jasão, ou de quem lhe guiar, para captar para sua insensata empresa a jovens aspirantes a heróis que ainda tiverem uma mentalidade de adolescente... Esse tipo de aventuras são mais próprias de um soldado de fortuna mais próprias de um soldado de fortuna que de um príncipe real ... Me explicarás que é o que tu, pessoalmente, irias ganhar, de marchar para a Cólquide? O que esperas conseguir para teu próprio proveito?
-Só busco crescer, pai, me desenvolver, sair do conhecido; descobrir coisas novas junto à gente de minha idade aos que aprecio, andar mundo, me abrir à vida e viver a sua aventura, o que ela tiver para mim. Desejo conseguir... experiência, conhecimento... e saber quem sou e do que sou capaz.
-Um dia tu vas reinar, e saberás quem és e do que és capaz, meu filho –falou o rei, quase com ternura-. Experiência vais começá-la a conseguir neste mesmo palácio, com os cargos públicos aos que penso destinar-te no próximo ano... ainda que o conhecimento terás que recebe-lo antes dos teus professores, continuando com tuas aulas práticas de governação e de administração, assistindo às assembléias, me consultando... E tudo isso, sem descuidar tua formação militar, que te servirá para atingir glória e manter-te no poder, quando a ocasião chegar. É fundamental que um futuro rei seja conhecido e querido por seus guerreiros como companheiro de armas.
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-Pai, adormeço-me nas aulas de governação! E mais me respeitarão os guerreiros trácios se consigo voltar com o Vélado d´Ouro, que se eu seguir mais dois anos fazendo a instrução com eles nos acampamentos!
-Tu és um inconstante e um iludido, Orfeu! –gritou o rei Eagro perdendo a paciência- Isso de que vas conquistar o Vélado d´Ouro à Cólquide é como se me dizes que vas conquistar a Lua ou a baixar aos Infernos! Bobagens!... O único que pretendeu o velho zorro de Pélias com essa condição foi convencer a Jasão para marchar ao fim do mundo e não mais voltar. Seria-lhe  menos trabajoso a teu amigo fazer um pouco de diplomacia entre os reis vizinhos e seguro que encontraria aliados com algum interesse por lhe ajudar a lutar por la legítimidad de su direito ao trono.
-Mas trata-se de uma expedição muito interessante, pai  -insistiu Orfeu-, lembramos muito pouco sobre o que há no lado oriental do Mar Negro, não temos relações com os reis ou chefes desses povos, só os troianos as têm. Deveríamos conhecer até onde chega o mundo por ali. E nós, os trácios, com mais razão que os gregos peninsulares, já que as nossas fronteiras debruçam-se sobre esse mar. Ademais está aquela história de que o Sul do Cáucaso foi o berço de nossos antepassados e dos troyanos, enquanto o dos nossos primos gregos foi ao Norte dessa cordilheira. Um dia pode converter-se em nossa zona principal de influência.
-Esse passado lendário do Cáucaso está bem no passado, filho, e não há nada que nos interesse, hoje por hoje, nesse país remoto e embruxado de bárbaros escitas nómades, de amazonas sanguinarias, de tribos selvagens completamente intratáveis... E os colquídeos não são muito melhores, Orfeu, apesar de que seu rei é um grego e não um bárbaro. Os viajantes contam que ele ainda permite que lhe sejam oferecidos sacrifícios humanos a Hécate, a antiga Deusa da Morte... até assegura-se que as filhas do rei são feiticeiras, magas negras. Estão demasiado atrasados, convence-te. Como o estávamos nós antes de abrir-nos à influência da civilização pelasga do Mar Egeu.
-...Ademais, nosso futuro não está para nada no Norte nem no Oriente, esses espaços frios, nubosos e encerrados entre cordilleiras, dos que procedemos  -prosseguiu o rei-, senão no rico e luminoso Sul, que é a plataforma naval de expansão, através do Mediterráneo, para o mundo tudo: Lídia, Cária, Lícia, as ilhas que elas têm enfrente; olha o bem que vai-lhes aos fenícios... e para isso convém-nos mais a aliança com Troia, inclusive uma reunificacão, já que no passado eles e os trácios chegamos juntos ao Egeu desde a Anatólia, que com esses gregos falsários e cobiçosos, de quem mais vale se precaver... olha como esses rústicos saídos das montanhas apoderaram-se do império marítimo de Creta.
-De rústicos nada, desculpa pai: os jónios , ao menos, são bons navegantes, e quanto ao resto dos gregos em geral, de continuar demonstrando tanto sentido da oportunidade, ousadia e força como até agora, eu acho que é melhor fazer-se seu amigo, inclusive um com eles, que andar tentando se precaver do inevitável... E Jasão informou-se bem, podes ter certeza, o Vélado existe, os colquídeos o guardam em um bosque sagrado, custodiado por um dragão. Trazê-lo é uma qüestão de prestígio, um desafio... unir-se a eles nesta aventura, servirá para que comecem a considerar Trácia, não como um território bárbaro do Norte a colonizar, senão como uma digna parte da Grande Grécia.
         -Um dragão! -o rei tocou-se a cabeça- Os dragões não existem mais que nas lendas!... Jasão vai totalmente iludido atrás de um mito, filho, nada tangível, nada que nos interesse. Qual prestígio vai-nos dar a conquista de uma pele de carneiro velha?... Educamo-vos contando  mitos, porque os mitos são metáforas que servem para que depois compreendais o mundo, suas leis e seus valores... É normal que um campónio ignorante tome suas decisões e guie sua vida confiando nos mitos que ele aprendeu, já que não tem melhor instrução –prosseguiu Eagro dando uma volta ao redor da sala-, mas para um homem culto, os mitos são só referências, contos, e ele guia-se pela razão, pelo que planeja previamente e pelo que analisa que mais convém fazer em cada momento para cumprir seu plano de vida, para realizar-se. Tomar mitos por realidades e marchar atrás deles é inmaturidade, infantilidade... a tua idade, perdoa o que vou-te dizer, tolice.
-Pai –seguiu insistindo Orfeu-, vários dos antigos colegas que tive onde Quirão estão indo lá, além de Jasão e outros grandes campeões: Cástor e Pólux de Esparta, os minias Idas e Linceo, o grande Anceo de Tegeda, Ascáfalo de Orcómeno, Eufemo de Tenaro, o sábio heraldo Equião; o príncipe Brigo de Egina; o príncipe de Calidão, Meleagro; o arqueiro Falero, da casa real de Atenas... e até jovens reis: Augías da Élide, Admeto de Feras... São eles tolos? Ilusos? Esses são os melhores filhos dos gregos!... Eu quero ir também, pai! Trácia não vai ficar sem mandar a alguém de bom berço a esta gesta, ainda que só seja para se assegurar uma informação, prestígio, relações que nos facilitem uma maior presença na abertura de novas vias de comércio com Ásia... Conta-se que nessa zona há muitos cereais e lá, ademais de ouro, cobre, gemas preciosas...
-Sei, sei, já o sei –cortou o rei-. Achas que não mandei há muito a meus conselheiros que elaborassem um relatório sobre o tema? Segundo eles, não resulta rentável para nós ainda o comércio direto com essas terras tão longínquas, nem política, nem econômica, nem estrategicamente. Por agora, chega-nos com preservar o passo livre pelos estreitos... e isso já nos está custando muito ouro e diplomacia -e, em tom conciliador-. Talvez  algum dia  lhe interessará a Cólquide, junto com toda a orla sul do Mar Negro, e talvez até a Arménia, aos conselheiros de teu neto... Se antes nós conseguíssemos formalizar uma grande aliança com o rei dos troyanos, que está no médio. Posso pedir-lhe uma de suas filhas para casar contigo...
-Pai, por favor –disse Orfeu alçando a voz-, para com isso! Eu já estou comprometido e bem comprometido com Eurídice, a mulher que amo!... e quanto à Cólquide, permite-me dizer-te que o que parece longínquo hoje aos teus assessores, nos parecerá próximo demais assim que os gregos comecem a colonizá-lo. E isso virá logo após desta expedição, com certeza; eles são rápidos em ampliar seus possíveis mercados. O mundo fica pequeno para as novas galeras de vela com trinta remeiros ou mais. Impressionaria-te a que foi capaz de construir Argo para Jasão.
-Não vai-lhes ser tão fácil, com Laomedonte de Tróia controlando os estreitos e todo o comércio asiático. Amais disso, por muito rápida que seja essa nave, poderias demorar anos em voltar. Ou não voltar... E já temos falado antes de teus egoístas compromissos sentimentais! Um príncipe pode fazer qualquer coisa que lhe de prazer em privado, para isso é um príncipe. Pode ter todas as amantes que quiser, sempre sendo discreto. Porém, na hora de casar, ele tem que pensar só no que é conveniente para seu país. Não me fales mais de casamento com Eurídice! Um casamento teu é uma oportunidade de aliança com outro estado para Trácia, não uma qüestão de amor –afirmou o rei, com toda autoridade, a modo de conclusão.
-Casarei com Eurídice quando retornar do Cáucaso e teremos filhos que serão filhos do amor –disse singelamente Orfeu.
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O rei Eagro, vendo a cara de inacesível teimosía do seu filho, e com o tom de quem tem que tomar uma dura decisão que já durante muito tempo tem sido pensada, contestou bruscamente:
Se empenhas-te em antepor os egoístas interesses da tua personalidade aos teus deveres de príncipe real e te enrolas nessa louca expedição em lugar de atendê-los, não penses que vamos esperar por ti, Orfeu. Esta é uma monarquia séria. Ou tu fazes o que deves, ou nomearei ao teu seguinte irmão príncipe herdeiro e o prepararei para as tarefas de governo, que é no que tu deverias estar ocupado agora, e não em tantas músicas e tantos sonhos.
-Farás muito bem em nomea-lo. Parece-se a ti bem mais do que eu, pai; com certeza que dará um sério e eficiente rei.
-Filho... estás te decatando do que falas? Será que queres jogar teu futuro pela janela?
-Decato-me bem, pai, mas isso do que falas não é meu futuro, senão “teu plano de futuro”. E tu tens mais outros  filhos para realizá-lo. Não só a mim, o tolo... Meu futuro, eu mesmo tenho que escolher. E estou escolhendo agora.
-E daí, o qué é que vas escolher? –disse Eagro, com tom de desafio.
-Escolho viver de outra maneira. Renuncio em meu seguinte irmão na linha aos meus direitos à coroa – disse com suave firmeza fitando-o aos olhos. Orfeu nunca se sentiu mais lúcido nem mais tranqüilo.
-Não disputarás depois a teu irmão o seu direito ao trono? –perguntou incisivamente o rei. Estava claro que lhe comprazia a renúncia, mas queria assegura-la e ficar bem.
-Juro-te que apoiarei qualquer plano de futuro para o país que tu e ele desenharem, pai; sei que será o melhor para a Trácia. Nunca disputarei-lhe o trono a meu irmão, juro. Eu não seria um bom rei, sou muito pouco estável, demasiado móvel. Aposto a que ele sim o será –disse com naturalidade.
-Advirto-te que teu irmão vai seguir a mesma política que eu: no exterior sustentará a aliança com Tróia e não com os gregos e no interior seguirá favorecendo o culto do deus Dionísio, que foi quem lhe fez ganhar o trono da Trácia ao teu avô Cárope, meu pai, em frente a seu rival, Licurgo, um apolíneo. Devemos ser agradecidos... Apesar de que te iniciei nos Mistérios de Dionísio desde criança, tu pareces ter mostrado mais interesse pelo orgulhoso Apolo dos gregos.
-Pai, respeito muitíssimo a Dionísio e tenho claro que apoiar seu culto faz que o povo te apoie, mas não esqueças que minha mãe é uma sacerdotisa de Apolo, e que eu tinha que conciliar a esses dois deuses, paterno e materno, em minha cabeça e em meu coração: por isso fui no Egito... Esperava encontrar ali a origem comum de ambos.
-Acho que tens voltado bem mais grego que egípcio, Orfeu.
-Só por fora pai... sinto, realmente, que se algum dia teremos uma civilização mundial, deveremos-lha  aos gregos, que têm o gênio de encontrar o ponto de união razoável e atual entre todas as culturas que lhes rodeiam; isso é o espírito de Hermes... e é  por isso que eles me interessam... Porém,  Egito segue sendo Toth, a fonte original de todo conhecimento importante.
-Bem, basta de preferências religiosas ou simpatias culturais, Orfeu. O único que eu queiro ouvir de ti é a promessa de que, ainda que admires aos gregos e a Apolo, não obstaculizarás minha política nem a de teu irmão a favor de Tróia e de Dioniísio.
-Podereis contar com isso, pai. Dou-te minha palavra de que serei todo o neutro e fiel possível, nunca estarei em oposição às alianças da coroa... E, por favor, contem também comigo para tender pontes de entendimento entre Apolo e Dionísio.
-Sendo assim... –suspirou o soberano- escolhe o futuro que tu mesmo desejes, Orfeu, e que todos os deuses te abençoem. Mas lembra bem que, para não ofender a nossos aliados asiáticos, não irás como representante oficial e príncipe de Trácia nessa expedição, senão a título particular... a não ser que volteis triunfantes –Eagro pôs a cara que costumava para dizer “assim é a política”.
Orfeu tinha bem claras, agora, as verdadeiras razões das resistências do rei: sua política para o futuro de Trácia encontrava-se em um delicado equilíbrio entre os agressivos e expansionistas gregos do sul, aos que não convinha ter como inimigos, em frente a seus interesses no este, que passavam por manter boas relações com a vizinha Troia, zelosa guardiã do Mar Negro e da Ásia Menor. Estabelecidas seus puntualizações de homem de estado, Eagro regressou à amável cara de “filhos, vosso pai quer-vos”:
-Perdoa se esquentei-me antes, que não era pára menos... Mas muito olho, anda com cuidado, meu filho, pede a meu ayudante quanto precises para te equipar-te e volta sempre a esta, tua casa, seja qual seja o resultado de tua aventura.

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