segunda-feira, 12 de setembro de 2011

43- OS HABITANTES DA IBÉRIA

OS HABITANTES DA IBÉRIA


 

Capítulo aberto à criatividade, no qual as versões podem-se estender sobre dados reais ou mitológicos encontrados sobre a protohistoria de Iberia, sempre cuidando que os contribuas científicos se descrevam como informações e reflexões que vai vivenciando o bardo caminhante através de lugares, situações e personagens. E que estejam bem acompanhados de imaginación, interesse e qualidade literária.


MATERIAL INICIAL:

Todas as histórias que recolhia pelo caminho, mais as músicas próprias da cada paisagem e comunidade, que ouvia interpretar aos bardos nativos, mais suas próprias experiências e criações, iam engrosando a Canção Ocidental de Orfeo, quem foi cruzando os majestuosos Pirineos pelos atuais vales de Cerdaña e Urgell, passando ao pé de suas cimeiras mais altas e remotas.
Os indígenas dos vales da região interior ao pé dos Pirineos, que nem sabiam que os estrangeiros lhes chamavam íberos como conjunto e que só se autoidentificaban com o nome de suas próprias tribos, já tinham um aspecto diferente aos da região mais oriental, quem, por viver cerca do Mediterráneo eram, por tanto, mais abertos e permeables aos modos civilizados.
Estes interioranos viam-se como gente muito burda e elementar, com a que não serviam as línguas francas conhecidas. Às vezes Orfeo só podia se entender com senhas. Eram duros guerreiros, brutais e ferozes em frente ao inimigo e aos prisioneiros, ainda que amáveis e hospitalarios com os caminhantes, aos quais tratavam com a maior generosidad. Tinham um aspecto bem austero, dormiam no solo, sobre palha, como os animais, e encontravam belo, tanto os homens como as mulheres, se deixar crescer o cabelo até médias costas ou mais, o que lhes obrigava a se cingir a frente com uma banda para trabalhar ou lutar. Em realidade, passavam a maior parte do tempo com aquelas ridículas bandas postas sobre suas cabeças e só luziam suas lustrosas melenas durante as festas e cortejos, para que os demais as admirassem.
Comiam muita carne de chivo de seus rebanhos, complementada com um pão de bellotas de encina. Para elaborá-lo, deixavam secar as bellotas e depois as trituraban, as molían e faziam com elas a massa, que se horneaba. O pão resultante não tinha mau sabor e se conservava durante algum tempo.
Ainda que normalmente só bebiam água, conheciam também a cerveja e a sidra, e as consumiam em suas festas, em bastante quantidade e sem mesura. Isto e seu costume de falar a gritos, entrecruzando as conversas e sem que ninguém escutasse a ninguém, além de sua manía de colecionar as cabeças cortadas dos inimigos mortos, com as que decoraban suas casas e até seus cavalos, era o que mais aspecto de bárbaros lhes dava aos olhos de um estrangeiro culto e o que mais repugnantes lhes fazia aparecer, quando se entregavam àqueles excessos.
O vinho, que lhes traziam as caravanas de arrieros dentro de peles de pele de cabra com o cabelo voltado para dentro (o que diziam que dava um melhor sabor), o trocavam muito caro a mudança de seu ganhado, mel e peles, ou de escravos prisioneiros de guerra, quando os capturavam. Por tanto, bebiam-no em raras ocasiões. Mas se conseguiam-no, consumiam-no tão rapidamente como se fosse cerveja, compartilhando com as gentes de seu próprio clã e com os hóspedes em festines muito pouco elegantes, porque não sabiam para nada dosificarse. Iam em busca da pura borrachera e da inconsciencia, após passar por uma vã e pesada explosão de euforia e prepotencia jactanciosa que lhes esquentava demasiado a alma, deixando que saíssem à superfície todas suas concorrências e seus instintos guerreiros, o que, às vezes, fazia que aquelas bromas e pullas que tão alegres começaram, degenerassem em brigas terríveis que não raramente terminavam em derramamiento de sangue.
À hora da bebida nem os mais altos e cultos entre eles praticavam nada semelhante a um ritual de concentração: nem separavam o comer e o beber, nem sacralizaban minimamente a ingestión do poderoso néctar de Dionisio. Estes rústicos montañeses, igual que outros habitantes de regiões incultas, nem sequer se cuidavam de rebajar a pureza do vinho lhe misturando partes de água, segundo a vibración ambiente, para alongar a sessão sem perder a dignidade, senão que bebiam o vinho puro o misturando com a grasienta comida, se servindo eles mesmos, sentados ou até em pié, de uma maneira ruidosa, agitada e vulgar, se manchando os vestidos, sem agradecer por ter alimento, nem fazer oferendas aos deuses, nem cánticos, nem sentido de comunión, nem jogos, nem a menor altura intelectual, repetindo e repetindo da bebida enquanto ficasse uma gota. Com todo o qual, mais que à sociabilidad, a alegria inteligente, a inspiração, a conexão e o êxtase, davam saída em seguida ao que a mais brutal, bestial e inconsciente tinha neles.
No meio da festa, os homens arrancavam-se a dançar em corro com muita algarabía, ao som de flautas e trombetas, dando saltos e acabando em uma genuflexión arrogante, com os braços abertos, como quem diz: “Aqui estou eu”. Em alguns lugares Orfeo pôde ver que as mulheres, sempre mais finas dentro da barbarie, e que neste país tinham certa beleza exótica para ele, não tinham conserto em beber e em dançar com os homens que gostavam adiante de de todo mundo, apanhando das mãos e usando, às vezes, de movimentos e gestos que passavam facilmente da exposição da graça feminina a uma provocação sensual médio arrogante, desafiadora e completamente innecesaria, que pareceria vulgar e inaceitável às refinadas e discretas matriarcas da Pelasgia.

Usavam manteiga para cozinhar em vez de azeite, o que lhes fazia cheirar como ovelhas. Comiam sentados em bancos de pedra empotrados nos muros, em ordem à idade e o rango. Os manjares passavam em círculo, reservando um lugar de honra aos convidados e servindo-lhes os primeiros. Utilizavam recipientes de varro ou copos de madeira muito vulgares, seus lares careciam da menor estética. Nos dias de festa celebravam derrochadores banquetes comunitários, que contrastavam enormemente com o austero de seu quotidiano.
Em ocasiões especiais, usavam pinturas corporales, especialmente para a guerra, nas que conseguiam expressões ferozes e selvagens passando por partes de rosto e braços bolas ou cilindros de arcilla úmida impregnada de uma tintura vegetal de diferentes tons de azul. Seus gritos de guerra, ou inclusive de festa, pareciam-se a estentóreos e alongados cantos de galo.

Não tinham a menor consideração com o reino animal, o desprezavam e maltratavam como fazem todos aqueles os que querem esquecer o degrau evolutivo mais próximo de onde eles mesmos se tinham encontrado recentemente, caçavam indiscriminadamente a quanta fauna silvestre se lhes punha a tiro, inclusive às crianças, como se os recursos da natureza fossem inesgotáveis, e nem sequer tratavam bem a suas espléndidos cavalos íberos, os mais belos e grandes que Orfeo visse jamais. Ensuciaban os rios, depredaban com a mesma imprevisión o reino vegetal, devastando as madeiras nobres sem replantar jamais e inclusive, em lugares de ganadería, prendiam fogo nos pastos secos para que ardessem ao capricho do vento, achando que assim se regenerariam mais cedo os pastos, sem saber que estavam propiciando a desertificação de suas planícies em longo prazo.
Estas rudas maneiras, em um povo que, pelo demais, mostrava um grande encanto e gallardía pessoal, eram o que mais desagradaba a Orfeo, já que era por causa de atitudes semelhantes que os gregos menospreciaban aos camponeses e montañeses de seu próprio país, Tracia, dizendo que a diferença entre um homem grego e um homem tracio era que, “quando bebia, o homem tracio ficava em puro tracio e perdia o homem”.

Apesar daquela rusticidad e incultura, tinha algo nos ibéricos que fascinaba ao bardo: até do mais andrajoso deles emanaba de forma natural uma dignidade tão grande que lhe fazia parecer um aristócrata disfarçado, bem consciente de sua soberania interior. Todas as mulheres de qualquer idade olhavam com naturalidad a qualquer homem de frente e com a cabeça alta, ainda estando perfeitamente tranqüilas e serenas, e nenhuma parecia fingir humildade , modéstia ou recato, como era costume na Grécia até entre as féminas mais guerreiras e encumbradas. Nem sequer os mendigos pareciam sumisos. Pediam estendendo a mão em silêncio, e dessem-lhes ou não lhes dessem, davam as obrigado em um tom que fazia sentir ao outro que era ele o beneficiado por lhe lhe brindar a oportunidade de se mostrar generoso com um irmão e que, em qualquer das voltas que dá a vida, o que agora recebia sua ajuda podia ser o que lhe ajudasse.

A soleada península ocidental deveu ser um país muito apetecido por todos desde tempos muito remotos e se via um grande mestizaje de raças. Parecia abundar entre eles a mistura de ligures mediterráneos, ou seja, acadianos da Era Anterior mais pelasgos arianizados da Quarta Subraza caucasiana lunar. Também reconheceu gentes que eram, claramente da Quinta Subraza solar, alguns deles parecidos aos gregos e outros com rasgos que lhe faziam pensar a Orfeo em tipos humanos que tinha conhecido em Tracia, procedentes de povos do remoto Norte, talvez hiperbóreos, ou ilirios, ainda que eles lhe diziam que o país de onde tinham vindo em um dia seus antepassados esteve no Centro da Ásia profunda , além o Cáucaso e as terras dos persas, às orlas de um mar que já secou e se converteu em deserto. Quem isto lhe contou, disse pertencer à tribo dos “Saefes”, e lhe contaram outros que os tais Saefes eram a tribo que predominaba no extremo Ocidental de Iberia. Inscreviam com freqüência sua tótem, em forma de serpente, sobre rochas que delimitaban seus territórios, junto aos caminhos principais. Como tantos dos que costumam usar reptiles como símbolo, se dizia que os Saefes tinham grandes conhecimentos de Magia Lunar.

   

  

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